Inspiração

 

Outro dia, conversando com amigos, alguém perguntou o que era inspiração e ninguém conseguiu responder. Como definir algo tão impreciso e ao mesmo tempo tão poderoso?

E eu fiquei pensando que ela pode estar em qualquer lugar. Numa flor ou estrela (exemplos óbvios), num banco de praça ou num cafezinho (melhorou um pouco), numa pessoa, numa conversa, numa imagem ou então numa minhoca (por que não?). Depende de quem vê.

Para um cientista a inspiração pode vir de uma maçã caindo em sua cabeça, e que o faz descobrir uma revolucionária lei da física. Para um pintor, ela pode vir de uma jovem de sorriso enigmático, que lhe faz pintar o quadro que vai entrar para a história. Para um artesão ela pode vir no vislumbre do encaixe perfeito, que vai lhe permitir finalizar a peça desejada. E para quem escreve ela pode vir de um momento, uma situação ou até de um gesto qualquer, que vão fazer sua imaginação voar e criar histórias tão incríveis que depois nem ele mesmo será capaz de explicar de onde aquilo surgiu.

Inspiração é a centelha que acende a fogueira, é o ar quente que infla o balão, é a chave mágica que dá acesso a compartimentos escondidos situados ninguém sabe onde.

A inspiração é generosa, mas também é esquiva. Aparece quando menos se espera, e de repente some, sem dizer se vai voltar. Ela é cheia de caprichos, costuma aparecer disfarçada, quase nunca é clara, e muitas vezes dá trabalho para se fazer entender.

A inspiração gosta de ser mimada e às vezes não colabora em nada. É cruel e gosta de criar momentos angustiantes, tomando nosso tempo e nos deixando sem saber para onde ela quer nos levar.

A inspiração não está no objeto e sim nos olhos de quem a vê, ou melhor dizendo, nos sentidos de quem a consegue decifrar.

A inspiração pode gerar uma forma ou fórmula, um texto ou um desenho, uma máquina ou um poema, pode servir para coisas úteis ou inúteis pode criar coisas que vão mudar o mundo ou não servir para nada, mas nunca ninguém conseguirá detê-la.

Inspiração é a irrefreável necessidade de criar, dar forma, botar pra fora, ver nascer alguma coisa desconhecida que está nas entranhas da gente e que se recusa a permanecer lá. E que nem mesmo quem lhe deixa nascer sabe o que virá.

Eu? Eu não tenho inspirações. Acho que nem sei bem o que isso é. Só sei que volta e meia sinto necessidade de escrever algumas coisas. Não sei se é a tal inspiração que vem me visitar, como quem não quer nada. E nessas horas ela sempre me deixa confuso e me faz redigir textos que não sei porque surgiram e que ninguém nunca irá ler.

Mas não tem jeito, esse estranho sentimento manda. E eu não tenho como deixar de obedecer.

 

Publicado em 06.03.2017