Meu Jantar com Veríssimo

 

Somente há poucos dias fui saber que Veríssimo andou dando um susto. Poucas pessoas na vida eu li com tanto prazer – e espero voltar a ler em breve – como ele. Se algum dia for feito um filme sobre sua vida eu deixo aqui uma sugestão para o título: O Senhor das Palavras.

Veríssimo tem a raríssima habilidade, aliada à inteligência e conhecimento, de escrever sobre qualquer coisa. E escrever bem. Cada texto de Veríssimo é uma aventura que nunca se sabe exatamente onde vai nos levar. Pode ser divertido, crítico, instrutivo, hilário, histórico, filosófico, literário, político, anárquico, comovente... a lista é infindável.

Como fã de muitas décadas, sou capaz até mesmo de reconhecer seu estilo, mesmo num texto não assinado, e graças a isso fui capaz de identificar os muitos textos fake atribuídos a ele que circulam pela internet. Eu bato o olho e logo digo: O Veríssimo jamais ia escrever essa merda. E nunca erro.     

Há alguns anos tive o privilégio de jantar com ele num restaurante chique. Bem, ao menos tecnicamente. Nós estávamos no mesmo voo da TAP, classe executiva, a caminho de Lisboa, e Veríssimo estava sentado duas fileiras atrás de mim. Lá pelas tantas, depois do jantar, levantei, e fingindo que ia ao banheiro, passei por Veríssimo – sentado ao lado de sua mulher Lucia – me curvei em sua direção e fiz questão de apertar sua mão, dizendo que era um grande fã. Não tive coragem de pedir um selfie, achei que ia lhe perturbar demais, mesmo assim, aquele nosso encontro ficou marcado em minhas memórias.

A única vez que fiquei de mal com meu ídolo foi quando ele passou a defender o PT. Veríssimo, como todo mundo sabe, é simpatizante da esquerda, e por um bom tempo li seus textos – sim, mesmo de mal não deixei de ler – com uma certa implicância. Mas hoje, pensando bem, depois de todos os estragos e absurdos que a extrema direita tem feito ao país, começo a pensar que talvez ele estivesse certo desde o início.

Tenho uma amiga que me apelidou de Douglas Veríssimo, em referência às coisas que costumo escrever aqui, e talvez esse seja um dos maiores elogios que já recebi. Mas que é, claro, absurdamente exagerado e impróprio. Veríssimo sempre será inimitável e inatingível.

Então, meu querido amigo e ídolo, que continua isolado em Porto Alegre, no bairro Petrópolis, se restabelecendo de um AVC, por favor te cuida. Melhoras rápidas. E que muito em breve todos nós possamos ter novamente a alegria de poder ler teus textos brilhantes.

Um abraço do teu conviva daquele nosso jantar nas alturas.

 

 

 

Publicado em 15.04.2021