Durante muitos anos, desde os tempos do Jornal do Brasil, Artur Xexéo era a primeira pessoa que eu lia ao pegar o jornal. Eu pegava o jornal na soleira da porta e ia direto para a sua coluna. Naquela época ainda não existiam redes sociais, mas se existissem eu poderia dizer que era seguidor dele.
As crônicas do Xexéo podiam ser divertidas, bem humoradas, reveladoras, curiosas, irônicas, provocativas ou cultas, entre muitas outras coisas. Cinema, artes, cultura, política, teatro, dia a dia, não havia assunto sobre o qual ele não fosse capaz de escrever, e escrever bem.
Jornalista, escritor, tradutor e dramaturgo, Xexéo era o cara que sabia das coisas e sabia como criar textos que prendessem nossa atenção. Além do mais, eram divertidíssimos. Durante muitos anos ele publicou, sempre no mês de dezembro, o concurso 'Mala do Ano'. O certame (como ele mesmo gostava de dizer) era uma homenagem às pessoas mais chatas do ano, aquelas que tinham enchido a paciência de todo mundo durante 12 meses.
Os leitores enviavam seus votos para o concurso Mala do Ano por e-mail ou telefone, ele organizava tudo e na última coluna do ano anunciava os resultados. Muitas personalidades, das artes à política, ganharam o troféu e nem todas ficaram satisfeitas, mas diga-se de passagem, fizeram por merecer.
Cheguei a trocar alguns e-mails com Xexéo durante uma Copa do Mundo, sugerindo que ele organizasse uma campanha para o Dunga voltar a falar durante os jogos. É que tinha rolado um problema na Seleção, o capitão Dunga ficou P da vida e deixou de dar instruções para o time. Xexéu respondeu apenas: Deixa comigo. Só sei que logo depois Dunga voltou a falar e organizar o time em campo.
Outra vez eu escrevi dizendo que ele era a 2ª pessoa que eu lia ao pegar o jornal, todos os dias. O 1º era o Veríssimo. Ele não respondeu, mas tenho certeza que entendeu o elogio.
Xexéu foi um professor para muitos cronistas. Seu estilo de escrever, como se estivesse conversando com a gente no sofá da sala, era uma verdadeira aula de pós-graduação para todos que gostam de escrever.
No Brasil atual, dominado pelo ódio, agressividade e intolerância, onde a estupidez e ignorância parecem se impor sobre tudo, a inteligência, lucidez, cultura e luminosidade de Artur Xexéo vão fazer muita falta.
Publicado em 27.06.2021