Muita gente tem um pet de estimação, um gatinho, cachorrinho ou passarinho. Eu tenho uma aranhazinha. Bem, pra falar a verdade não sei se tenho, mas estou começando a achar que nasceu entre nós algum tipo de afinidade, e que por isso ela me pertence. E talvez ela pense o mesmo de mim.
Acontece que todas as manhãs, depois de tomar o café, eu sento no sofá da sala durante alguns minutos para ler as notícias do dia. Faz parte do meu ritual. Aí essa aranhazinha, com menos de meio centímetro de tamanho, aparece na parede e fica ali parada do meu lado, me olhando. Da primeira vez que ela apareceu, há cerca de uma semana, eu dei um soprão e ela sumiu, jogada para trás do sofá. Mas no dia seguinte lá estava ela de novo, no mesmo lugar, na mesma hora. Dei outro soprão e ela sumiu de novo. Mas não adiantou, no terceiro dia, quando eu sentei no sofá, lá veio ela de novo, sempre insistente.
Ela aparece não sei de onde e fica ali do meu lado, quietinha, como um bichinho de estimação, esperando pelas festinhas de seu dono. Aí bateu a emoção. Não deu pra mandar ela embora de novo. Desisti de soprar e continuei lendo o jornal, fingindo que não estava vendo, fazendo jogo duro, mas cuidando a aranhazinha com o canto dos olhos. Lá pelas tantas cheguei até a arriscar um sorriso.
Hoje, quando sentei no sofá e olhei para a parede, não vi a minha aranhazinha e bateu uma tristeza. Mas de repente, quando todas esperanças pareciam perdidas, ela apareceu, subiu a parede e ficou ali quietinha, no lugar de sempre, meio encabulada e me olhando com uma carinha fofa.
Não sei muito bem como é lidar com uma aranha de estimação. Nunca tive uma. Estou pensando até em pesquisar no Google como se faz para alimentar, aquecer, levar para passear etc. Mas é inegável que depois de uma semana de convivência com a Berenice (esse é o nomezinho dela) já se formou uma grande amizade entre nós dois.
Estou até pensando em levá-la pra dormir comigo.
Publicado em 25.05.2020