Amarelinhos

 

Dizem que o Rio é uma das cidades com maior número de táxis por habitante. Não sei se isto é verdade, mas o fato é que, num dia normal, basta a gente levantar a mão para conseguir um carro quase na mesma hora. E as vezes nem é preciso isso, basta ficar junto ao meio-fio e logo um táxi encosta e pergunta se a gente está querendo um.

Não sou usuário frequente de táxis, primeiro por causa do preço, e depois porque o Rio, ao menos nas regiões por onde transito, é bem servido de transportes públicos. Infelizmente o mesmo não pode ser dito em relação a todos os bairros da cidade, principalmente em relação aos subúrbios, onde a situação de transportes públicos é bem ruim.

E falando em transportes públicos, nunca vi uma cidade que tivesse tantas linhas de ônibus como o Rio de Janeiro. Elas formam um emaranhado de trajetos, muitas vezes sobrepostos e não integrados aos outros transportes urbanos. Nem quem nasceu e viveu no Rio a vida inteira conhece todas as linhas. Muitas vezes o problema não é nem pegar um ônibus, é descobrir qual deles se deve pegar para chegar lá. Seja lá onde for.

Estou dizendo isso porque só depois de fazer essa foto é que percebi que nela estão vários amarelinhos, a cor adotada por todos os táxis do Rio. Li que em SP existe um táxi para cada 285 habitantes enquanto o Rio tem um para cada 190 habitantes. Não sei se essa proporção é boa, mas imagino que seja razoável para uma cidade deste porte.

Para mim pegar um táxi é como embarcar numa aventura, nunca se sabe exatamente o que vem pela frente. Se o motorista vai estar de bom ou mau humor, se é roda presa ou vai tirar o pai da forca, se vai falar a viagem inteira ou vai ficar mudo, se vai arredondar a corrida para baixo ou vai dizer que não tem troco para uma nota de 50, se o carro é cheiroso ou vai estar fedendo a cigarro, se vai estar com o ar ligado ou a gente vai ter que pedir para ligar e receber como resposta uma cara feia. Se vai puxar assunto sobre política, e se isso acontecer, como eu devo reagir.

Outro dia um amigo contou que em São Paulo não é comum as pessoas andarem com o ar condicionado dos carros ligado, o que me deixou surpreso, já que lá também faz muito calor.

Talvez nem todos saibam, mas no Rio, andar em um carro com vidros abertos e sem ar ligado é inconcebível, inimaginável, quase pecado. É caso de pedir para o motorista parar, descer na hora e ser indenizado por danos morais. Não sei se isto acontece para aumentar a segurança, por causa do calor, ou porque cariocas amam um friozinho ambulante, o fato é que basta chegar no Rio para ver que praticamente todos aqui andam com janelas fechadas e o ar ligado.

Mas que diferença isso faz? Táxis são o passado, agora quando preciso eu chamo um Uber ou Cabify e todos eles estão sempre com o ar ligado, musiquinha soft a bordo e alguns ainda oferecem balinhas de brinde. Nada como o progresso.

 

 

Publicado em 08.03.2018

 

N. do A.: Depois de vários problemas com o Uber e do Cabify ter saído do Brasil, voltei a usar os amarelinhos e estou muito feliz com eles. Mas continuo pegando táxis apenas com ar condicionado.