Roxy

 

Não aguento mais ver tantos lugares fechando as portas em definitivo. Bares, restaurantes, cinemas, teatros, pontos culturais não são apenas bares, restaurantes, cinemas, teatros ou pontos culturais. Eles são parte da gente, de nossas lembranças, de nossa vida. Cada um dos lugares que costumávamos frequentar, sempre associados a bons momentos, levam junto, ao fechar, um pedacinho da gente.

Mas a notícia do fechamento do cinema Roxy foi para mim especialmente doída. Foi lá que eu assisti, junto com amigos da juventude, a estréia de 2001, uma Odisséia no Espaço. Foi no Roxy que também assistimos, nos tempos da gigantesca tela de Cinerama, Grand Prix, sentados na primeira fila, o que me custou um doído torcicolo.

Foi no Roxy que incontáveis vezes, assim que a porta era aberta, eu me estabacava feito um doido, numa correria insana, tentando pegar uma boa poltrona antes dos outros. Foi no Roxy, hiper lotado no relançamento de E O Vento Levou, que eu saí de bunda doída após 4 horas sentado no chão.

E ainda assim tudo aquilo era ótimo, tudo era parte das aventuras de um adolescente. E também tinham as gatinhas no salão, a troca de olhares e as promessas. Ir ao Roxy num sábado era sinônimo de programão, era um evento, um acontecimento.

Fundado em 1938, o icônico Roxy foi um dos maiores cinemas do Rio, com 1630 lugares. Reformado na década de 90, foi dividido em 3 cinemas, instalou um elevador, poltronas numeradas, projetores high-tech, uma ótima bomboniere e seguiu em frente, sem demonstrar a idade que tinha. Nos últimos anos eu não frequentava quase o Roxy, era mais conveniente ir a um cinema de shopping, mesmo assim era reconfortante saber que o Roxy continuava lá, firme e forte, como um velho amigo.

Após meses fechado devido à pandemia, ele voltou a funcionar em outubro, mas como permaneceu quase às moscas os proprietários decidiram fechá-lo novamente, esperando que após a vacinação as pessoas voltassem. Mas não aguentou esperar, e será mais um a ficar pelo caminho. Não vai conseguir soprar as velinhas de 83 anos.

E um pouquinho de mim vai embora com ele.

 

 

Publicado em 09.06.2021