Stephen Hawking foi uma personalidade marcante por diversas razões, em particular por sua inteligência, suas teorias e descobertas científicas. Normalmente isso já seria motivo suficiente para tornar qualquer um célebre, mas considerando suas severas limitações físicas, sua figura se tornou muito mais que célebre. Passou a ser mítica.

Transformou-se num verdadeiro ídolo pop, cultuado em seriados de TV, filmes, eventos e em qualquer outro lugar onde aparecesse. E ele levava isso tudo numa boa, como demonstrou, ao dizer certa vez: "A cruz de minha celebridade é que não posso ir a lugar algum sem ser reconhecido. Não basta colocar óculos escuros e uma peruca. A cadeira de rodas me entrega".

Stephen Hawking foi considerado por muitos o maior cientista desde Einstein, e como acontece com gênios dessa natureza, parte de seu trabalho ainda deverá levar algum tempo para ser assimilado. Prisioneiro do próprio corpo, isto nunca impediu sua mente de percorrer o universo, chegando a regiões que a maioria de nós nunca sonhou existir, nem compreender.

Mas não apenas isso. Ele era também um filósofo de primeira, e um humorista inspirado, como revelam algumas de suas frases: "O maior inimigo do conhecimento não é a ignorância, é a ilusão do conhecimento". "Olhe para as estrelas e não para os seus pés". "A vida seria trágica se ela não fosse engraçada". "Mulheres, elas são um completo mistério".

Stephen Hawking era a própria contradição dos padrões estéticos vigentes. Num mundo que cultua e busca incessantemente a beleza física, o vigor atlético e a saúde perfeita, ele era o contrário disso tudo. Mesmo assim a gente acabava esquecendo suas características físicas, pois sua presença de espírito, inteligência e humor eram tão marcantes, evidentes e contagiantes, que nos faziam enxergá-lo de outra forma. Nós praticamente o víamos por dentro.

Curiosamente ele não acreditava na vida após a morte nem em Deus, o que para mim, considerando sua inteligência, é um paradoxo. Dizem, no entanto, que esta forma de pensar não é incomum entre cientistas, pois eles têm por hábito e por método de trabalho procurar evidências para tudo. Assim, por não conseguirem encontrar evidências científicas para a existência de Deus, concluem que ele não existe, o que me faz lembrar daquela deliciosa 'conversa dos gêmeos' no útero materno, em que um deles dizia para o outro que não tinha conseguido encontrar evidências científicas da existência de algo chamado mãe e por isso tinha chegado à conclusão que mães não existem.

por que uma pessoa com tantas limitações físicas e inteligência nasce e vive entre nós? Não por acaso, pois acasos não existem. Com certeza ele veio aqui para nos ensinar, abrir nossa mente e mostrar como ver coisas de forma diferente. E nisso pode-se dizer que foi bem-sucedido.

Na verdade ele foi ainda mais além: Nos mostrou que até mesmo os grandes gênios podem estar enganados sobre certas coisas. E que evidências nem sempre podem ser encontradas através da limitada ciência que conhecemos.

Tenho certeza que ele, esteja onde estiver, vai muito em breve começar a reavaliar seus conceitos da vida após a morte. Evidências estarão, literalmente, em si próprio.

E torço para ele finalmente conseguir ver - assim como os gêmeos no útero materno descobriram ao nascer - que as evidências muitas vezes estão à nossa volta. Nós é que não conseguimos enxergá-las.

 

 

Publicado em 18.03.2018