Em conversa com um amigo que torcia por Trump nas eleições americanas, ele confessou que está preocupado com a possibilidade de Biden nos causar problemas na Amazônia. A declaração do presidente eleito americano, vale lembrar, foi que ele irá garantir 20 bilhões de dólares para a preservação da Floresta Amazônica e, caso o Brasil se recuse a aceitar, estará sujeito à consequências econômicas.
Como era de esperar, a declaração de Biden feita no debate de 29 de setembro foi usada por nosso presidente - torcedor declarado de Trump - para insuflar a bolha bolsonarista com demagogias patrióticas e surtos ufanistas. Segundo Bolsonaro, "Biden pretende abrir mão de uma convivência cordial e profícua", "o Brasil não mais aceita subornos, criminosas demarcações ou infundadas ameaças", e "nossa soberania é inegociável".
É compreensível a irritação de Bolsonaro. Nosso presidente apóia a derrubada de florestas. Ignora o Pantanal em chamas. Extinguiu órgãos de fiscalização e controle ambiental. Corta verbas do IBAMA. Ameniza regras de controle do meio ambiente. Faz vista grossa para o aumento do desmatamento. Permite a queda de resoluções para restringir o desmatamento e a ocupação em áreas de preservação ambiental de vegetação nativa, restingas e manguezais. Forçou o afastamento do fiscal que o multou por pescar em área proibida. Fecha os olhos para a 'passagem da boiada'. Gargalhou quando uma criança lhe perguntou, preocupada, sobre a destruição do Pantanal.
Bolsonaro transformou o Brasil no vilão do meio ambiente. Ele não aceita que o mundo está vivendo novos tempos e agora a escala de valores é outra.
Cada vez mais o mundo procura usar fontes de energia alternativa. Preservar o meio ambiente. Despoluir rios. Preservar o verde. Evitar a deterioração da natureza. Impedir o descontrole climático. Desenvolver carros elétricos. Acabar com fontes de energia poluente. Deter o aquecimento global. Tudo para salvar este nosso lar, que chamamos Planeta Terra.
Para Bolsonaro, negacionista nato, tudo isso é uma farsa. É coisa de comunistas. E por isso ele nutre tanto ódio pelos que defendem a saúde do planeta, como a 'pirralha' Greta Thunberg.
Bolsonaro e outros líderes negacionistas estão cada vez mais isolados na comunidade global, como se ainda vivessem na época da revolução industrial, século 19, quando fábricas despejavam toneladas de poluentes na atmosfera e todos achavam ótimo. Uma época em que se pensava que os recursos da Terra eram inesgotáveis e que o planeta nunca poderia adoecer.
Se a Amazônia é a cereja do bolo global e se todos estão preocupados com sua preservação, assim como nós, o Brasil pode lucrar com isso, adotando uma política pragmática:20 bilhões de dólares? É pouco. Queremos mais. E também investimento maciços em áreas carentes. A coisa certa a fazer é agir com o cérebro, fazendo o país lucrar. E não com o fígado, através de bravatas inúteis.
Enquanto isso, praticamente todos presidentes do mundo civilizado já reconheceram a vitória de Biden e lhe transmitiram parabéns, inclusive os que torciam por Trump. Eles sabem que rei morto é rei posto e olham para o futuro de seus países.
Mas Bolsonaro faz birra, já brigou com toda Europa, com a China e agora quer brigar também com os Estados Unidos. E em sua insanidade nos equipara a países como a Coréia do Norte, que também não reconhece a vitória de Biden.
Bolsonaro, teu ídolo caiu. E tu és o próximo da fila.
Publicado em 09.11.2020