O edifício A Noite foi inaugurado em 1929, e é considerado o marco inicial da verticalização do Rio de Janeiro. Foi nele que Mary Emilie Huggins, filha do inglês William Nelson Huggins, trabalhou, no décimo primeiro andar durante trinta anos, onde funcionava o Ministério da Educação e Cultura. Mary era minha sogra, mas infelizmente nunca cheguei a conhecê-la.
O edifício A Noite ficou famoso por ter sido o primeiro edifício da cidade com mais de vinte andares (tem 22) e ganhou este apelido porque lá situava-se a sede do jornal A Noite. O prédio abrigou também a histórica Rádio Nacional, que nos anos 30 e 40 representou para o país o mesmo que a Rede Globo representa hoje. Lá estavam ainda as sedes de diversas empresas multinacionais e alguns consulados.
O prédio foi projetado pelo arquiteto francês Joseph Gire, também autor dos projetos do Copacabana Palace e Hotel Glória, dois icônicos prédios do Rio. Na época de sua inauguração o Edifício A Noite foi o maior arranha-céu da América Latina e mais alto edifício do mundo em concreto armado, uma das especialidades da engenharia brasileira. Foi projetado em estilo art déco, inspirado nos grandes arranha-céus que começavam a ser construídos em New York e Chicago.
Contam-se várias curiosidades sobre este prédio, entre elas que na década de 20 havia uma disputa entre Rio e São Paulo para ver qual cidade construiria o prédio mais alto, sendo que o Rio estava a caminho de ganhar com o edifício A Noite. No entanto, Giuseppe Martinelli, rico imigrante italiano que morava em São Paulo, decidiu incluir alguns andares adicionais ao seu projeto, unicamente para não perder a disputa, o que acabou dando o título ao prédio paulista - Edifício Martinelli - inaugurado alguns anos depois.
O Edifício A Noite tinha ainda um ótimo mirante em seu último andar de onde se podia ver praticamente todo o Rio de Janeiro e dizem que este mirante era tão visitado quanto o Pão de Açúcar. Em resumo, o edifício A Noite era o lugar certo no Rio, o máximo, o top.
Outro dia passei em frente ao prédio e não tive como deixar de ficar triste em vê-lo fechado e abandonado. E mais uma vez constatei como tratamos mal e relegamos ao esquecimento nossos monumentos históricos. O que nos faz ser assim? Com certeza não é falta de dinheiro. Existem planos para a recuperação do prédio, mas por enquanto são apenas planos e ninguém sabe se e quando irão se transformar em realidade.
Nesse meio tempo, o imenso prédio permanece lá, impávido e silencioso, contando suas histórias para quem chegar perto e se dispuser a ouvi-las. Quando eu o visitei ele me contou essa, e por isso eu a partilhei aqui com vocês.
Publicado em 12.11.2018