George Floyd

 

Nos Estados Unidos um incentivador do racismo, belicista, desrespeitoso, que adora bajuladores e tem ódio à imprensa, se vê acuado e como resposta vai posar para fotos em frente a uma igreja, segurando a Bíblia.

No Brasil, um genocida, belicista, que vomita palavras de ódio durante reuniões, adora bajuladores, tem ódio à imprensa e adota por lema Deus acima de Tudo, posa para fotos orando de mãos postas.

Até que ponto pode chegar a hipocrisia?

Após o brutal assassinato de George Floyd, chocando os Estados Unidos e o resto do mundo e desencadeando manifestações em mais de 350 cidades, algo não visto desde o assassinato de Martin Luther King, não houve qualquer palavra de empatia e apoio por parte do presidente aos milhões de americanos que historicamente tem sido discriminados pela lei e polícia. Nenhum gesto de respeito a todas aquelas pessoas que sempre foram tratadas como cidadãos de segunda categoria e que agora vão às ruas para exigir igualdade e justiça.

O presidente os chamou de bandidos e terroristas. E ameaçou colocar o exército nas ruas.

Foi preciso que Mark Esper, Secretário de Defesa, declarasse que não concorda com essa proposta, que o almirante Mike Mullen, ex-chefe do Estado Maior das Forças Armadas Americanas declarasse ter ficado enojoado com a proposta do presidente, e que o ex-presidente Barack Obama, em manifesto ao país, dissesse que a mobilização de tantos jovens dá esperanças e que ajuda a fazer o país sentir que precisa melhorar, para que Trump, acuado, recuasse de sua proposta indecente.   

Mesmo assim, entre americanos e brasileiros, ainda há os que insistem em ver as manifestações americanas apenas como episódios de violência e anarquia. É claro que estas coisas acontecem em qualquer manifestação, mas são atos isolados. A imensa maioria de jovens que se reúne nas manifestações americanas é composta por pessoas respeitadoras e pacíficas, que não mais aceitam ser tratadas de forma diferente pela lei e pela polícia, como foram seus pais e avós, apenas porque tem a pele negra.

É emocionante ver policiais abraçados aos manifestantes, ajoelhados e de mãos dadas, numa cena que se repete em dezenas de cidades, numa demonstração de solidariedade, empatia e comunhão de idéias, tudo que Trump é incapaz de sentir ou manifestar.   

As arrebatadoras imagens destas manifestações transmitem a esperança que a ferida purulenta, conhecida pelo curto nome de racismo - palavra incapaz de expressar o hediondo sentimento oculto nestas sete letras - possa um dia ser varrido daquele país, e por extensão, do planeta. Da minha parte eu só lamento não estar lá, para me juntar àquela epopéia a favor da justiça e igualdade.   

Mas nós moramos no Brasil e nossas lutas aqui, além desta, são muitas outras.

Temos o nosso próprio hipócrita insensível para enfrentar e vencer. 

 

 

Publicado em 04.06.2020