Wishbone Ash

 

A primeira vez que ouvi Wishbone Ash foi na rádio JB FM, que na época tinha um programa dedicado às novas bandas. Naquela tarde o programa tocou todo o LP Argus, que havia sido lançado há poucos dias na Inglaterra e alguém tinha trazido para o Brasil, e na mesma hora aquela sonoridade me chamou a atenção. Aquilo era rock, fiel ao que se fazia lá pela metade dos anos 70, com guitarras, baixo e bateria cadenciada. Nada de firulas, teclados nem sopros. Mas mesmo sendo igual, era diferente, embora eu não conseguisse encontrar onde estava a diferença.    

Não foi fácil conseguir o álbum Argus. Ele não tinha sido lançado no Brasil nem ninguém sabia se seria. E quem quisesse tinha que conseguir o álbum importado. Hoje em dia, quando se consegue via Internet praticamente tudo, vindo de qualquer lugar do mundo, a dificuldade de conseguir um álbum não lançado no Brasil é até difícil de compreender.

Na época, conseguir álbuns importados era tarefa digna de profissionais. Dependia de bons contatos ou pessoas que viajassem ao exterior e se dispusessem a procurar - muitas vezes sem nem saber onde - e comprar. Ou então, esperar que eles chegassem nas poucas importadoras de discos da cidade. E quanto a isso, quem morava no Rio de Janeiro tinha uma meca a quem recorrer: a loja Modern Sound, em Copacabana.

A gente então torcia para chegar lá e quando - e se - chegasse tinha que ir correndo até a loja, porque era tudo disputado quase as tapas por dezenas de rockmaníacos em êxtase. Várias vezes estive na Modern Sound logo após a chegada de remessas novas, e ver aquelas caixas todas espalhadas pelo chão, repletas de álbuns raros ou recém lançados no exterior, causava, para quem curtia música, a mesma emoção que uma criança sente na manhã de Natal.

Foi lá que consegui a minha cópia de Argus, e esse álbum foi o marco inicial de uma longa amizade sonora com Martin, Andy, Ted e Steve, os quatro ingleses integrantes do WA.  

Wishbone Ash nunca teve uma música que explodisse nas paradas, nem chegou a fazer parte do primeiro escalão do rock, mesmo assim é uma banda respeitada devido à consistência de seu trabalho e à excelência de seus músicos. E sua marca registrada, aquilo que lhes fazia soar diferente de todo o resto – justamente o que na época eu não conseguia perceber – era que a banda não tinha dois guitarristas solo, como usual. Eram dois, tocavam ao mesmo tempo, criando duetos de harmonias inspiradas e que faziam toda a diferença.

A integração entre os dois guitarristas era tão completa que quem ouvia chegava muitas vezes a pensar que era um só. Graças a isto, Andy Powell e Ted Turner entraram para a galeria dos grandes guitarristas da história do rock. Ao longo de 58 anos de carreira, 26 álbuns e várias formações, o Wishbone Ash tornou-se parte integrante da história do rock.

E eu estou aqui divagando sobre isso apenas porque desde ontem venho fazendo uma maratona com os álbuns da melhor fase do Wishbone Ash, e me surpreendendo como eles, ainda hoje, soam tão bons.

E se interessar a alguém: Wishbone é como é chamado aquele ossinho do peito da galinha em formato de forquilha, conhecido por aqui como jogador ou osso da sorte.  E Ash, como todo mundo sabe, significa cinzas, de onde se conclui que Wishbone Ash refere-se às cinzas daquele ossinho da galinha.

Um nome bem estranho, e que além de tudo carrega uma grande contradição: Wishbone Ash nunca se transformará em cinzas.

 

 

Publicado em 09.11.2018