Já li que em casos de incêndio ou coisa parecida, quando as pessoas tem que sair correndo de suas casas e só tem tempo para pegar uma ou outra coisa, o que a grande maioria lembra de pegar são suas fotografias.
E a explicação dada pelos psicólogos é que quando se deixa fotos de nossa vida para trás, estamos perdendo um pedaço de nós mesmos. Imagino que hoje em dia as coisas tenham mudado, e com essa digitalização de tudo, em casos de incêndio as pessoas estão preferindo levar seus pendrives e HDs externos.
Isso tudo é porque hoje estava procurando meu antigo atestado internacional de vacina contra febre amarela, e como não o encontrava em lugar algum, resolvi procurar na minha caixinha de de lembranças, que eu não abria há anos. Pois não é que passei bons e emotivos momentos lembrando minhas lembranças?
Por que as pessoas tem essa estranha compulsão de guardar coisas? Coisas que quase sempre não servem pra nada, fotos, recortes de jornal, caixinhas disso ou daquilo, soldadinhos de chumbo, boletins do colégio, poemas, cadernos, cartas que nunca serão lidas novamente, entre tantas outras coisas. Acho que a razão é porque, de uma forma ou de outra, essas coisas são pedacinhos de vidas, nossas e de pessoas queridas que não estão mais aqui, e cada objeto conta uma história ou relembra um momento. Em resumo, não as jogo fora porque não tenho coragem.
Essa é uma tarefa que vou deixar para outra pessoa fazer depois que eu já não estiver mais por aqui. E sei que nesse dia vou ser muito xingado por quem fizer essa limpeza, tipo 'por que aquele maluco guardou todo este lixo? Só pra me dar trabalho de jogar tudo fora.'
Já fui pior em guardar coisas, e de uns tempos pra cá resolvi facilitar a vida de meu futuro limpador, jogando fora muitas coisas. Sobrou apenas o que está guardado na minha caixinha de lembranças, que convenhamos, não é tão grande assim. Não vai dar tanto trabalho ao meu limpador.
E olha só, pra facilitar ainda mais a tarefa dele, eu deixo aqui uma dica: A caixinha de lembranças está no quarto dos fundos, terceira porta do armário, na prateleira de cima.
Publicado em 30.03.2017