Ontem, a maior autoridade militar americana, General Mark Milley, comandante do Estado Maior das Forças Armadas Americanas, pediu desculpas por ter participado da encenação de Trump durante os protestos pela morte de George Floyd. Naquele dia, o presidente americano reuniu um grupo de assessores, inclusive o general, saiu da Casa Branca, e foi posar em frente a uma igreja, segurando um exemplar da Bíblia.
A encenação não seria tão hipócrita se Trump não demonstrasse diariamente, através de ações e palavras, que seu governo navega na direção contrária aos mais básicos ensinamentos religiosos. "Eu não deveria estar lá", disse o general. E completou: "Minha presença, naquele momento e naquele ambiente, criou uma percepção de envolvimento dos militares na política interna".
Bravo General! O senhor agiu como um verdadeiro militar, que faz jus à farda e às suas medalhas. Um militar que sabe que as Forças Armadas tem por obrigação servir ao Estado, e não a um governo de momento. E isso inclui não se envolver em politicagens, ser isento e seguir o que estabelece a Constituição.
Entre nós, muitos ainda estão precisando fazer esta autocrítica. E não apenas os militares. Vemos pessoas de diversas áreas, profissões e atividades, insistindo em apoiar o que já se mostrou inapoiável. A grande maioria é composta por pessoas boas, honestas e responsáveis. Que o arrependimento não lhes chegue tarde demais.
Quanto ao movimento deflagrado pela morte de George Floyd, eu escrevi aqui há alguns dias: "Nenhum de nós sabe ainda onde isso tudo vai dar. Pode ser como a onda que após bater na areia se desmancha e some. Ou pode ser como a Tsunami que leva tudo terra adentro, destruindo conceitos ultrapassados".
Hoje, passados 19 dias do assassinato de Floyd, podemos dizer com certeza que a onda não se desmanchou.
Diversos projetos de lei foram apresentados nos Estados Unidos, modificando radicalmente a forma como policiais devem fazer a abordagem a suspeitos e proibindo o uso de golpes como o que resultou na morte de Floyd. A Secretaria de Direitos Civis do estado de Minnesota deu início a uma investigação que cobrirá os últimos dez anos, investigando eventuais práticas discriminatórias sistêmicas contra pessoas negras, e assegurando que elas nunca mais se repitam. O Partido Democrata apresentou um projeto de lei, chamado Justice In Policing Act, para desmilitarizar a polícia e proibir, em todo o país, o uso de força além do necessário. E isso é apenas o início.
Leis podem ser modificadas, o mais difícil será sempre mudar a mente das pessoas. Sabemos que ainda há muito a ser feito para acabar com a odienta crença, presente na mente de tantos, que algumas pessoas têm mais direitos que outras apenas porque tem a pele branca. Mas graças a George Floyd, demos mais um passo à frente para impedir que isso continue acontecendo.
Sua morte não foi em vão.
Publicado em 12.06.2020