Em Cima do Muro

 

Há alguns dias, conversando sobre política, alguém soltou aquela conhecida pérola, referindo-se, em tom de crítica, às pessoas que ficam 'em cima do muro'. O fato é que alguns bolsonaristas e petistas simplesmente não admitem que alguém possa desejar uma terceira opção. Para essas pessoas o mundo é totalmente preto ou branco e não existe nada no meio. São, pode-se dizer, daltônicos políticos.

Estas pessoas veem o mundo como um lugar divido por um muro, sem zona de transição, onde você está do lado de cá ou do lado de lá. Ou é amigo ou é inimigo. 

Elas necessitam ter um adversário definido, visível, que possa entrar nitidamente em sua alça de mira, a quem possam odiar com maior eficácia. Nesta estranha e deturpada visão a pessoa em cima do muro é aquela que não tem coragem de se assumir como preto nem branco. É o sórdido aproveitador que não tem coragem de expor seus pensamentos e quer ficar bem com todo mundo. É o sujeito oculto, que quer ver quem vai levar a melhor para depois escolher o lado que vai ficar. Não admitem que na vida há vários tons de cinza e que o próprio arco-íris, símbolo adotado pela comunidade gay, tem sete cores, e é uma das mais belas obras da natureza.

Dizer que alguém está em cima do muro apenas por não ser bolsonarista nem petista, é usar de uma expressão que, por si só, já deixa claro o preconceito e a mentalidade limitada de quem a usa. Mas é inútil dialogar com estas pessoas, elas só conseguem distinguir o preto e o branco,

Quem estudou física óptica aprendeu que o branco é formado pela mistura de todas as cores e o preto pela ausência delas. E entre ambas há muitas variações, tonalidades, matizes e combinações possíveis, cada qual com sua própria beleza, aplicação, utilidade e valor.

Muitas vezes, dependendo do assunto ou lugar, elas são preferíveis ao preto ou branco. 

 

 

 

Publicado em 05.12.2019