Marisa Mell

 

Houve época em que quando se queria demonstrar que era fã de alguém ou de alguma coisa, a gente tinha que ter um pôster na parede. E quanto maior o pôster, maior era a nossa paixão pelo que estava representado nele. Deve ser por isso que eu tive um pôster gigante dos Beatles colado na parede do quarto da minha avó - que por amor aceitou sem reclamar - e que me inspirava nas novas composições dos Rodas Quadradas, banda que, injustamente, nunca chegou a fazer o merecido sucesso.

Depois, quando descobri minha paixão por aviões, consegui um pôster imenso de um Boeing Jumbo 747 decolando, comprado numa agência de viagens de Copacabana, após uma difícil negociação com o funcionário do balcão, que não sabia que desculpa iria dar para a dona da agência sobre o sumiço da parede daquele pôster, mas que mesmo assim acabou aceitando minha proposta.

Mais tarde, na minha fase pré-viajante, levei para casa um pôster de quatro metros de largura, que ocupava quase toda parede do quarto, mostrando uma vista noturna de Manhattan, e que foi devidamente colocado sobre minha cama, embalando muitos de meus sonhos sobre lugares distantes que um dia eu gostaria de conhecer.

Dia desses, sem mais nem menos, dei de cara na Internet com a mesma foto do primeiro pôster que tive na vida, de uma atriz italiana chamada Marisa Mell, por quem me apaixonei à primeira vista. Eu devia ter uns 15 anos e colei o pôster dela na porta de meu armário. Lembro que meu pai aceitou sem problemas aquele pôster, não sei se porque achou que aquilo era um sinal que eu já estava ficando um homenzinho, ou porque ele também gostou da foto.

Hoje ninguém mais compra posters, eles são uma moda ultrapassada. E eu também nem imagino que fim levou a Marisa Mell. Ela nunca emplacou como atriz, e parece que nem italiana ela era, mas tudo bem, prefiro não ter detalhes, e muito menos saber como ela está agora. É melhor manter na memória essa imagem da minha paixão dos 15 anos. Além do mais, esse negócio de colecionar pôster é coisa de velho.

Agora eu só coleciono arquivos digitais.

 

 

Publicado em 13.08.2019