Ainda o Face

 

De uns tempos para cá o Facebook está me fazendo lembrar aqueles adolescentes problemáticos que não sabem bem o que querem, mudam de humor a toda hora e acabam perturbando a vida da família e de todos que são obrigados a conviver com eles. Afinal, quem hoje em dia, não usa o Facebook?

No último ano todo mundo percebeu que suas publicações no Face vem tendo menos visualizações e reações por parte de amigos. E isto não é apenas impressão minha,nem sua. É fato, e muita gente tem reclamado a esse respeito. A razão é que o Face durante 2017 decidiu fazer dinheiro como qualquer outra empresa comercial, e isto se refletiu no que é exibido no feed de cada um de nós.

Você já viu aquele convite na sua página dizendo 'Impulsione suas publicações'? Pois é, o Face vem privilegiando em nosso feed as publicações pagas, em detrimento de mensagens postadas por amigos. Em outras palavras, o que seus amigos postam aparece cada vez menos em seu feed, que, ao contrário, fica cada vez mais infestado de publicações postadas por empresas e entidades que pagam para serem vistas. Quem quiser ver o que seu amigo/amiga publicou precisará ir até o Face dele/dela para descobrir. Aos poucos e para não chamar atenção, o Face vem implantando este sistema.

Cada um de nós vê um Face diferente, e quem regula o que aparece no nosso Face são os famosos algoritmos. Essas misteriosas e complexas sequências de instruções pré-programadas, sem que saibamos, analisam diversos aspectos de nosso comportamento no Face: o que curtimos, o que procuramos, onde estamos inscritos, quem são nossos amigos, quantas vezes estivemos aqui ou ali, onde clicamos, quais links seguimos, o que compartilhamos, o que gostamos, amamos, odiamos ou o que nos faz rir.

Com isso o Face passa a conhecer cada um de nós cada vez melhor, e baseado nesse conhecimento exibe o que, em princípio, nos interessa. Ou melhor, exibia, porque com as mudanças nos algoritmos do Face implantadas em 2017 cada vez mais publicações e links pagos começaram a predominar em nosso feed.

Todos sabemos que ao aderir a uma rede social, estamos concordando implicitamente em abrir mão de parte de nossa privacidade. Este é o preço que pagamos para nos relacionarmos com quem quisermos e acompanharmos online e em tempo real o resto do mundo. O problema é quando nossa privacidade e dados pessoais começam a ser utilizados como mercadorias para quem pagar mais por elas.

Mas então, tudo mudou novamente. O ódio que infesta as redes sociais chegou ao Face contaminando tudo que encontrava pela frente: conteúdo tóxico, fake news, agressões de todo tipo, ofensas sexuais, raciais, intolerâncias diversas e até coisas mais graves, incluindo a suspeita que o Face teria sido usado pelos russos para influenciar as eleições americanas, o que levou o congresso daquele país a convocar o Face para dar explicações.

Tudo isso parece ter assustado Mark Zuckerberg, que resolveu voltar atrás e declarou que pretende restaurar o Face de antigamente. Acresce que seus técnicos também perceberam que ninguém aceita pagar para ser visto, e que se eles insistissem nessa ideia o Face estaria condenado a seguir o mesmo caminho de icq, orkut e outros: sumir.

Semana passada foi informado pelo Facebook que os algoritmos serão mais uma vez modificados, de forma a trazer de volta aquela incrível plataforma de comunicação interpessoal com a qual nos acostumamos. Se isso é verdade ou não ficaremos sabendo provavelmente ainda em 2018. Se for verdade, ótimo. Se for mentira não será nenhum grande problema.

De qualquer forma a fila anda, e pelo sim pelo não já poderemos ir pensando em quem será o sucessor do Facebook.

 

 

Publicado em 16.01.2018

 

N.do A.: Segundo o portal de estatísticas Statista, em 2022 o Facebook ainda era a plataforma com maior número de usuários no mundo (2,9 bilhões de usuários), seguido pelo Youtube (2,5 bilhões) e Instagram (1,4 bilhões), sendo a plataforma preferida pelos que dão preferência a contatos com amigos, escrever ou ler, no lugar de ver fotos ou assistir vídeos.