Garland

 

No meio de tanta concorrência não é fácil destacar-se. É preciso chamar atenção, fazer escolhas certas, instigar, ser criativo, incitar, responder aos fãs, ouvir o que eles querem, dar respostas, driblar os ataques, manter fãs antigos, acumular novos e dedicar grande parte do tempo a isso, hoje, amanhã, depois e depois, todos os dias e sempre. É algo desafiador e estressante. Isto lhe soa familiar?

Não, eu não estou me referindo ao Instagram. Eu estou falando de Hollywood, o que é mil vezes pior. Algumas pessoas tiram de letra, outras sucumbem.

Minhas lembranças de Judy Garland são poucas e difusas. Para mim ela sempre foi Dorothy, a adolescente de cabelo maria chiquinha que tinha como amigos um espantalho, um leão e um homem de lata, todos seguindo a estrada de tijolos amarelos a caminho do mundo mágico de Oz. Mas o filme mostra que por trás do sonho encantado Judy Garland precisou enfrentar pesadelos, e sua vida teve todos ingredientes de uma juventude roubada, o que iria lhe marcar para sempre.

É difícil hoje, especialmente para nós brasileiros, avaliarmos o que foi o fenômeno Judy Garland e tudo que sua lembrança traz aos americanos. Ela foi a queridinha da América em incontáveis filmes, diversos programa de rádio e televisão, Tinha uma voz marcante, interpretação única e foi o exemplo clássico da personalidade que cresceu, amadureceu e viveu em frente ao público.

Ainda jovem foi vítima de bullying por parte do poderoso LB Mayer, enquanto era submetida a uma rotina estressante por exigência dos estúdios MGM. Tornou-se dependente de álcool e tranquilizantes, teve cinco casamentos fracassados, problemas com a mãe, anorética, tentou suicídio mais de uma vez, tornou-se debilitada física e psicologicamente, até chegar ao ponto de exaustão. Mesmo assim Judy ainda conseguia preservar a voz, e quando subia ao palco - e estava sóbria - deixava a audiência fascinada.

Judy, o filme, concentra-se no último ano de sua vida, quando em público tudo que poderia dar certo tinha dado, mas na vida particular tudo que poderia dar errado tinha dado. Falida e esquecida pelo público americano, ela vai para Londres tentar dar a volta por cima em sua carreira, e consegue. Ao menos até certo ponto.

Renée Zellweger está perfeita no papel e é nome certo para o Oscar. O filme é uma bela homenagem a um dos maiores ícones do show business americano, e emociona em diversos momentos. Judy é a história de uma artista sensacional, mas que sucumbiu ao mesmo sistema que a tornou famosa.

Lembre disso e pegue leve com seu Instagram.

 

 

Publicado em 04.02.2020