Nunca Mais

 

Apoiado no parapeito da janela, olhando para cima, e vendo um pedacinho do céu azul, acima dos prédios vizinhos e a copa de um coqueiro, sem poder ir até lá, enquanto sinto o sol quente batendo no rosto eu fecho os olhos e ouço os passarinhos cantando numa árvore e finalmente compreendo a importância das leis que permitem aos prisioneiros tomar um banho de sol diário. É para eles não enlouquecerem.

Depois que essa pandemia acabar - se eu continuar vivo - prometo:

Nunca mais reclamar do sol forte batendo em meus olhos.

Nunca mais reclamar da água gelada do mar.

Nunca mais reclamar do vento.

Nunca mais reclamar de pessoas esbarrando em mim pelas ruas.

Nunca mais reclamar de filas na porta do cinema ou do teatro.

Nunca mais reclamar de sites congestionados ao comprar ingressos para shows.

Nunca mais reclamar de um restaurante barulhento.

Nunca mais reclamar de voos com uma hora de atraso.

 

 

Publicado em 30.04.2020