Piadinha com Intenções Ocultas

 

Recebi via whatsapp uma piadinha de três bons amigos bolsonaristas e a transcrevo abaixo. Ela é um exemplo do que chamo de piada com intenções ocultas. É mais ou menos assim: O presidente Bolsonaro convidou o Papa para almoçar num barco e o Papa aceitou. Durante o almoço, uma ventania levou o chapéu do pontífice, jogando-o na água. A tripulação ia buscá-lo, mas o Capitão Bolsonaro disse: Deixem, rapazes, eu vou buscar. Bolsonaro então desceu, andou sobre a água na direção do chapéu, pegou-o, caminhou de volta sobre a água devolveu ao Papa o chapéu. Todos os presentes ficaram sem palavras e ninguém sabia o que dizer. No dia seguinte a mídia divulgou a manchete sobre o acontecido: Bolsonaro não sabe nadar.

Essa mesma piadinha criticando a mídia já circulava nos tempos do PT, com algumas modificações, entre elas o nome de Lula no lugar de Bolsonaro e me faz lembrar aquele conhecido ditado da Grécia antiga: Quando o mensageiro trouxer uma notícia ruim mate o mensageiro. Como atualmente é mais difícil matar mensageiros, a ideia foi adaptada: Agora mata-se através da desmoralização, dizendo que a mídia é mentirosa. E a razão é porque todo governo autoritário, seja de direita ou esquerda, tem medo e ódio do que ela pode revelar.

É claro que há jornalistas mentirosos e pusilânimes, assim como também médicos, engenheiros ou entre qualquer outra profissão. Mas há também os responsáveis e que trabalham com finalidades legítimas, sendo que no caso do jornalismo, estas atividades incluem pesquisar, investigar, analisar, descobrir e expor os podres e as mentiras escondidas nos palácios governamentais, aquelas mesmas que todos governantes não querem ver divulgadas. Presidentes, quando tomam decisões que afetam a vida de milhões de outros, não tem o direito de exigir privacidade de atos, e o que fazem ou deixam de fazer deve ser do conhecimento de todos.

Expor o que governantes tentam esconder é o papel da mídia séria e responsável. E se um dia essa divulgação deixar de existir ou for proibida estaremos vivendo a mais ferrenha ditadura, onde o Estado diz o que é certo e errado, o que pode ou não pode, o que é mentira e o que é verdade. A mídia independente e responsável será sempre o principal antídoto contra governos mentirosos e autoritários.

Todo presidente da república sabe, ao assumir, que viverá num palácio cercado de assessores puxa-sacos e prontos a atender seu mais extravagante desejo. Sabe que terá uma caneta poderosa. Sabe que terá luxos e confortos inacessíveis aos demais brasileiros. Sabe que terá uma sala exclusiva de cinema, um avião só para ele, que ao viajar se hospedará nos melhores hotéis, que terá todas despesas custeadas pelo governo (graças aos nossos impostos), que será mimado e paparicado, que vão rir de suas piadas sem graça, que será cortejado por líderes de diferentes países, associações e celebridades, que terá milhares de seguidores prontos a fazer tudo que mandar e que terá uma vida de pop star.

Mas sabe também que será cobrado pela mídia por tudo que fizer ou deixar de fazer, disser ou deixar de dizer, 24 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano. Essas são as regras do jogo. E não adianta reclamar. 

Todo governante que espera receber sempre beijos, abraços, elogios e afagos da mídia escolheu a profissão errada. Faria melhor se vestisse uma roupa de Papai Noel e passasse a vida distribuindo presentes para crianças carentes. 

 

 

Publicado em 17.10.2019