O Peixinho no Aquário

 

E o peixinho nada em seu aquário, feliz da vida.

Será que o peixinho tem noção que está sendo observado? Será que ele sabe que existe uma pessoa  - saberá ele o que é uma pessoa? – que vive fora do aquário, e que neste exato momento lhe observa nadando? Será que para ele eu sou uma montanha móvel, um fenômeno da natureza que em breve vai passar e para o qual ele não precisa dar muita atenção? Ou será que ele me vê como uma nuvem ou como um vulto disforme e incompreensível que às vezes se aproxima de seu mundo? Algo que ele não compreende, mas com o qual não precisa se preocupar, porque este vulto disforme não tem nenhum poder para alterar em nada sua vida nem seu mundo fluido.

O mundo do peixinho é seu aquário. Lá ele nasce, vive, cresce, nada, dorme, se alimenta, passeia, se diverte, se estressa, namora, procria e morre. E vive a vida inteira sem saber que existe um mundo muito maior além do seu, um mundo que ele é incapaz de ver e compreender. O peixinho não sabe que seu universo, sua vida e tudo que faz parte dela é infinitamente pequeno comparado ao que existe além de sua caixinha de vidro transparente.

O peixinho nem desconfia que seu mundo está numa sala de espera. Ele não sabe que existem salas. E que esta sala tem wifi, luz elétrica, que o ambiente é refrigerado, que ali trabalha uma dentista, que existem dentistas, que existem profissões, que existem pessoas, que pessoas tem nomes, que a sala fica no décimo andar, que existem andares, que existem prédios, que existem quarteirões onde pessoas moram, que trabalham, que andam de automóvel, que vão ao cinema, comem churrascos e pizzas e viajam pelo mundo. O peixinho não sabe que existe um mundo.

E mesmo vivendo tão próximo a tudo isso o peixinho nasce, vive e morre em completa ignorância a respeito de tudo que existe além de seu limitado universo particular, que para ele é tudo que existe.

E eu penso como será possível um ser vivo passar a vida inteira sem sequer desconfiar sobre tantas coisas maravilhosas que estão além de seu mundo, seus sentidos e sua compreensão. E como deve ser triste viver em completa ignorância sobre tudo que existe além de seu limitado universo.

E eu caminho pela rua, feliz da vida.

 

 

Publicado em 22.01.2019