Grupos de whatsapp e eu temos um problema. E nem adianta tentar discutir a relação.
Há alguns dias saí de um dos últimos em que ainda permanecia. O problema desses grupos é que, quando começam, todos tem objetivos nobres e saudáveis, tais como promover amizades, manter contato, disseminar informações úteis, salvar as baleias, promover a paz universal etc etc. Às vezes até funciona. Ao menos durante algum tempo.
Até que um belo dia alguém do grupo decide repassar uma fake news ideológica. No dia seguinte alguém repassa uma fake news ideológica e uma piada de mau gosto. Ai outra pessoa repassa uma fake news ideológica, uma piada de mau gosto e a foto de uma bunda. E outra pessoa, no dia seguinte, repassa uma fake news ideológica, uma piada de mau gosto, a foto de uma bunda e uma imbecilidade grotesca. Esse é o momento em que você percebe que a coisa saiu de controle.
E depois que a coisa saiu de controle não tem mais volta. O grupo se transforma num espaço dedicado a difundir fake news, ideologias extremistas, xingamentos contra comunistas ou fascistas, declarações contra ou a favor da quarentena, palmas ou vaias para o mito, declarações de ódio ao Congresso ou ao Supremo, ofensas e elogios às redes de TV ou à media em geral, dissertações infindáveis sobre os benefícios ou perigos da cloroquina, teorias conspiratórias contra China ou Estados Unidos e estudos anatômicos sobre diversos tipos de bundas. Esse é o momento em que pessoas sensatas devem sair fora.
Um dia a psicologia vai explicar como ferramentas de comunicação tão úteis, criadas para aproximar as pessoas, se transformaram em máquinas automáticas de repassar absurdos, enquanto expõem, sem nenhum pudor, o lado intolerante e debilóide de tanta gente.
E ainda mais: Como o que foi criado para nos aproximar acabou nos afastando.
Mas até esse dia chegar estou fora. Como dizem na minha terra: Deu pra ti.
Publicado em 13.04.2020