Religiões Cristãs

 

Jesus não fundou uma religião. O que ele fez foi deixar valiosos ensinamentos para observarmos em nossas vidas, entre eles, que a vida segue após a morte. Jesus falava através de parábolas, para que os homens da época, ainda ignorantes, pudessem compreender melhor seus ensinamentos. A divulgação destes ensinamentos, sua interpretação e posterior transcrição para livros, coube primeiramente aos Evangelistas e a Paulo de Tarso.

Jesus era judeu, e como tal, o Cristianismo teve início como uma seita judaica. Ao longo dos séculos, ele se expandiu, sendo que a partir do ano 390, tornou-se a religião oficial do Império Romano. Com o tempo formaram-se três vertentes principais do Cristianimo: a Católica Romana, a Ortodoxa e a Protestante. Ao contrário do catolicismo, comandado de Roma, o protestantismo permitia que seus seguidores tivessem mais autonomia, inclusive quanto a questionamentos a respeito de seus próprios procedimentos e textos sagrados.

Pode-se dizer que, assim como o movimento protestante teve origem numa cisma com a Igreja católica, a Igreja protestante teve também suas cismas internas, levando ao surgimento de novas religiões, todas desdobramentos daquela fundada por Martin Luther, mas com diferenças sensíveis entre si.

Alguns desses movimentos, denominados Restauradores, tinham como objetivo resgatar a essência dos ensinamentos de Jesus. Em paralelo com a criação destas novas religiões foram criadas também novas normas, recomendações e proibições. A justificativa para estas normas era que, na visão dos fundadores destas novas religiões, elas estavam presentes nos ensinamentos de Jesus desde o início, mas haviam sido esquecidas ou desprezadas, e deveriam voltar a ser observadas.

Exemplos dessas normas são diversos: Mórmons são orientados a não beber líquidos quentes, referindo-se ao café e a qualquer tipo de chá que não seja chá de ervas. Amish evitam usar equipamentos eletrônicos, não usam automóveis e vestem roupas negras. Menonitas evitam mostrar o rosto em fotografias. Adventistas do Sétimo Dia não devem usar jóias. Testemunhas de Jeová estão proibidas de doar ou receber sangue de outra pessoa. Outras religiões proíbem ou desaconselham o uso de maquiagem, imagens religiosas, ingerir determinados tipos de alimentos. A lista de proibições é extensa e varia de uma religião para outra.

Mas ainda mais intrigante, além destas proibições, é que praticamente todas estas religiões tem sua própria interpretação dos textos sagrados, ou seja, uma interpretação própria da Bíblia. E essas interpretações diferem entre si em muitos pontos importantes.

Isto nos leva a um grande paradoxo: Se todas estas religiões são baseadas nos ensinamentos de Deus, os quais foram transmitidos por Jesus, como podem elas ter recomendações e proibições tão diferentes? Como podem ter Bíblias com interpretações diferentes?

Teria Deus se enganado da primeira vez, e depois se corrigido, informando apenas para um determinado grupo religioso o que Ele queria mesmo dizer? Ou estariam algumas destas religiões cometendo equívocos de interpretação?

Como Deus nunca se engana e é soberanamente justo com todos seus filhos, a conclusão é evidente.

Não é possível acreditar, por exemplo, que Deus se aborreça com quem aprecia um chá da tarde. Ou que Ele condene quem mostra os rostos em fotos. Ou que Ele não aprove o uso de micro-ondas. Ou que Ele ache ruim eu fazer uma doação de sangue necessária para salvar a vida de alguém. Ou que vá ficar chateado se eu me ajoelhar perante uma estátua para orar, porque aquela imagem facilita minha concentração. Ou se eu comer um filé mal passado numa 6a feira santa.

Duvido que Ele curta orações recitadas automaticamente enquanto a mente está em outro lugar. É pouco provável que Deus, em sua infinita misericórdia, renegue um filho só porque ele não teve sua cabeça imersa na água numa cerimônia de batismo. E não dá para acreditar que Deus vá ficar ofendido se você não vestir sua melhor roupa para se dirigir à ele, afinal, ele nos 'vê' por dentro, e sabe que o que somos por dentro é o que importa.

O que eu acredito é que Deus prefere que oremos em qualquer lugar e com qualquer roupa, até mesmo despidos, desde que sejam palavras vindas do coração. Acho lógico que Ele prefira que nos preocupemos menos com normas e proibições e demos prioridade às nossas condutas, pensamentos e atitudes do dia a dia. E estou absolutamente convencido que Ele deseja que usemos a inteligência, razão e livre-arbítrio que Ele próprio nos concedeu, para que busquemos a fé verdadeira, íntima, isenta de normas e proibições que agridam o bom senso e a razão.

Como já foi dito: "Fé inabalável, só o é a que pode encarar a razão, em todas as épocas da humanidade".

 

 

Publicado em 13.12.2019