A Grande Revolta Pró-Vacina de abril de 2021

 

Ninguém sabe ao certo quando a Grande Revolta Pró-Vacina teve início, mas desde o início de 2021 era possível sentir pelas ruas um clima de insatisfação devido ao atraso na vacinação. Mesmo assim, a maioria dos historiadores concorda que o momento decisivo foi em 9 de abril, quando estudantes derrubaram as barreiras que guardavam o acesso ao Instituto Butantã, em São Paulo, e Oswaldo Cruz, no Rio. 

Como sabemos hoje, desde março de 2021 os dois institutos possuíam vacinas suficientes para imunizar grande parte da população, mas estavam proibidos de iniciar a vacinação devido ao decreto presidencial que determinava que qualquer vacinação no país só poderia ser iniciada após autorização do ‘Comitê de Saúde, Ordem, Pátria e Segurança’, órgão criado pelo então presidente Jair Bolsonaro.

Semana após semana, as prometidas datas divulgadas pelo governo eram postergadas. Seja devido a exigências cromáticas (a cor das primeiras seringas foi considerada muito avermelhada), exigências técnicas (as embalagens das vacinas não continham a frase ‘Deus Pátria e Família, exigida em todos documentos oficiais desde fevereiro de 2021) ou por questões étnicas (alguns trabalhadores da área de saúde tinham ascendência chinesa, o que contrariava a norma governamental 2021-45974B)

Como é sabido, em dezembro de 2020 Reino Unido, Estados Unidos e Alemanha deram início à vacinação de suas populações, com as vacinas da Pfizer e Moderna. No mesmo mês Rússia e China iniciaram as vacinações com seus próprios imunizantes. 

Em janeiro de 2021 Austrália, Japão, Coréia do Sul, França e demais países europeus deram início às suas vacinações, oferecendo à população a chance de escolher entre as 4 vacinas existentes.

Em fevereiro de 2021 Argentina, Uruguai, Chile, África dos Sul, México e diversos países asiáticos iniciaram suas vacinações, sendo que cada pessoa podia escolher entre as 7 vacinas existentes.

Todos países avançavam em seus programas de imunização. E em todos a taxa de contaminação caia drasticamente, permitindo a reabertura de fronteiras, retomada das atividades econômicas, geração de empregos, reinício de voos e a vida voltar ao normal.

Mas nada  acontecia no Brasil. Por aqui as pessoas continuavam morrendo aos milhares em frente aos hospitais, cujas emergências estavam abarrotadas desde fevereiro. Foi neste cenário que aconteceu a fatídica reunião ministerial de 9 de abril de 2021, quando o ministro da saúde informou que o governo continuava empenhado em encontrar uma vacina que atendesse aos critérios brasileiros. Segundo o ministro, a vacina deveria ser estável, segura, barata, capaz de ser mantida e transportada em temperaturas entre 0 e 45 graus, não conter componentes chineses, ser imune à mídia, possuir embalagem com o símbolo do Corinthians, e principalmente não possuir corantes vermelhos. E concluindo, informou que até agosto de 2023, o governo poderia -  caso encontrasse uma vacina que atendesse essas condições -  dar início à vacinação no país.

Na tarde daquele mesmo dia, cerca de duas horas após a reunião ministerial, aconteceu  o primeiro incidente. Estudantes pularam as roletas de acesso que guardavam as entradas do Instituto Butantã e  Oswaldo Cruz, conseguiram chegar às salas onde pesquisadores e cientistas eram mantidos reféns por integrantes da milícia Terra Plana, e os libertaram.

Burlando a proibição de transmissões televisivas (imposta pelo governo em fevereiro de 2021) as redes de televisão imediatamente enviaram equipes para o local e em poucas horas estas imagens eram transmitidas para todo o Brasil. Surpresas e em choque, as pessoas tomaram conhecimento que já existiam milhões de doses de vacinas estocadas nestes Institutos, prontas para aplicação imediata na população, mas que o início do processo havia sido proibido pelo governo.

Atendendo ao apelo divulgado pelas redes de televisão e mídias sociais, centenas de médicos, cientistas e pesquisadores começaram espontaneamente a dirigir-se para o local e organizar grupos de trabalho e equipes emergenciais. Empresas transportadoras aderiram ao movimento, fornecendo logística e pessoal para transportar as vacinas a todos os recantos do país. Empresas aéreas disponibilizam seus aviões para colaborar nessa empreitada. 

Enquanto isso as ruas se enchiam de gente, revoltadas ao saber que já poderiam estar vacinadas há muito tempo.  Entre a multidão podiam ser vistas placas e cartazes às centenas, onde se lia ‘Vacina Já’, ‘Abaixo o Negacionismo’, ‘A Terra Não é Plana’ e ‘Eu apoio a Ciência’. 

Bolsonaristas, em pânico, tentavam reagir nas redes sociais, afirmando que vacinas eram uma fraude, que nenhum país havia feito vacinações, que todas haviam sido testadas somente em sapos e alienígenas, que aquilo era manipulação da mídia apoiada pelos planos chineses de dominar o mundo. Mas era tarde demais, o povo já havia tomado as ruas de praticamente todas cidades brasileiras.

Após uma semana de manifestações que pararam o país e graças a uma mobilização popular jamais vista, foi dado início à vacinação nacional emergencial. No Rio de Janeiro, polos de vacinação expressa foram criados no Aterro do Flamengo, Barra da Tijuca, Estádio do Maracanã e Praia de Copacabana. A avenida Presidente Vargas foi interditada ao trânsito em todas suas pistas para que ali fossem instalados os contêineres de vacinação expressa. Em São Paulo, o Parque do Ibirapuera transformou-se num imenso campus de vacinação. As avenidas Faria Lima e Paulista foram bloqueadas e ocupadas por centenas de equipes de vacinação. Na Vila Mariana, Jardins, Liberdade, Vila Prudente e diversos outros bairros milhares de postos atendiam à população. Em Porto Alegre as Avenida Borges de Medeiros, Carlos Gomes, o Parque da Redenção e a Orla do Guaíba transformaram-se em centros expressos de vacinação 24 horas. Em Belo Horizonte, Recife, Salvador, Belém, Fortaleza, Rio Branco, Boa Vista, Campo Grande, Palmas e em centenas de outras cidades tudo parou, enquanto milhares de pessoas, calmamente e de forma organizada, aguardavam sua vez de serem vacinadas, em filas onde não era possível ver o fim.  
  
Noite e dia, ininterruptamente e sem descanso, milhares de médicos, cientistas, técnicos de enfermagem, profissionais da área de saúde trabalhavam juntos, numa mobilização inédita, e que contava ainda com a colaboração de voluntários de todas as idades, vindos de todas as partes, que se apresentavam espontaneamente para colaborar, organizar filas, estabelecer prioridades, distribuir água e sanduíches, oferecer cobertores e procurar dar conforto aos que aguardavam sua vez de receber a vacina salvadora.  

Incansavelmente e sem medir esforços, conseguiu-se então o que antes parecia impossível: Vacinar 75% da população brasileira em 50 dias! A pandemia estava vencida. A vida podia finalmente voltar ao normal. 

Em todo país espocaram eventos, festas, reuniões e celebrações. Carnavais e Natais fora de época foram organizados. Aniversários, batizados e casamentos foram celebrados aos milhões. Estranhos se beijavam, abraçavam, pulavam, sorriam e choravam pelas ruas. Famílias se reencontravam e celebravam como nunca antes. Festas aconteciam em cada recanto, em cada casa, rua, praia, morro e onde mais fosse possível. Festivais de música, artes, cinema, exposições, eram organizadas em todos os lugares, com filas nas portas. E um clima de felicidade, alívio e renascimento tomou conta do país.

Dois meses depois, o 9 de abril foi transformado em feriado nacional para comemorar o ‘Dia da Vacina', também conhecido como ‘Dia do Renascimento’ e ‘Dia da Derrota do Negacionismo’.

Desmascarado, exposto e desacreditado, o governo caiu 13 dias após o início da Grande Revolta Pró-Vacina, sendo que os primeiros a exigir sua saída foram os membros do centrão. O presidente deposto fugiu e nunca mais foi visto, mas conta-se que tentou chegar até a borda da Terra e como não a encontrou acabou se estabelecendo no Azerbaijão, onde, após uma cirurgia de mudança de sexo, finalmente achou a si mesmo.

 

 

Publicado em 04.12.2020