O que faz alguém ser um grande fotógrafo? Não me refiro àqueles fotógrafos de moda, turismo, das celebridades de Caras ou coisas do gênero, muitos deles excelentes, mas sim aos fotógrafos que conseguem captar momentos fugazes e mágicos, aqueles instantes que acontecem rotineiramente frente aos nossos olhos, e que mesmo assim, não conseguimos ver nem perceber, quanto menos captar. Aquelas fotos que não se enquadram em nenhuma categoria conhecida, mas que quando exibidas causam impacto, emoção, admiração e nos fazem pensar 'como ele conseguiu captar isso?' Estou falando das imagens que poderiam ser descritas como Fotos da Vida.
Sem dúvida a primeira condição para fazer essas fotos é estar no lugar certo na hora certa. E a segunda é estar com a câmera pronta. Mas a terceira condição, a mais importante de todas, justamente a que diferencia um ótimo fotógrafo de um artista da imagem, permanece desconhecida. Muitos a procuram, inclusive eu, mas pouquíssimos já a encontraram. E acho que o tempo que me resta para saber onde ela se esconde está se aproximando do fim, por isso, se alguém souber a resposta e quiser dizer eu agradeço.
Henri Cartier-Bresson, um dos mais renomados fotógrafos de todos os tempos, sabia onde esta condição estava. Para ele, qualquer lugar era o lugar certo e qualquer hora era a hora certa. E algumas de suas frases servem como dica e apontam o caminho que todo aspirante a bom fotógrafo deve tomar em sua busca: 'Fotografia é o reconhecimento simultâneo, em uma fração de segundos, da importância de um evento'. 'Fotografia é o impulso espontâneo, vindo de um olhar sempre atento, e que captura o momento em sua eternidade'. 'Fotografia é reação imediata, enquanto desenho é meditação'. 'Ilude-se quem pensa que fotos são feitas com uma câmera. Elas são feitas com o olho, o coração e a mente'.
Depois de ler suas frases não dá para negar que, além de excelente fotógrafo, Henri Cartier era também um ótimo poeta.
Mas uma de suas muitas frases sobre fotografia é justamente a que me deixou, ao mesmo tempo, mais desapontado e esperançoso. Disse ele: 'As suas dez mil primeiras fotografias são as piores'. Depois de ler isso passei horas fazendo cálculos, tentando descobrir quantas fotos eu fiz até hoje, desde minha infância com uma Kodak Rio-400 até a Nikon que tem me acompanhado nos últimos anos, e concluí, resignado, que ainda faltam 1327 cliques para eu finalmente começar a fazer boas fotos. Mas ao mesmo tempo fiquei animado, pois ainda não sou tão velho assim, e deve dar tempo.
Esse blá blá blá todo é apenas porque ontem, passeando numa livraria, encontrei um livro que fala sobre os grandes fotógrafos da LIFE, não resisti, comecei a folhear e viajei legal.
Se alguém por acaso não lembra, a LIFE foi uma revista americana de fotojornalismo que circulou entre 1936 a 2000, e por suas páginas passaram algumas das maiores feras da fotografia global, incluindo o próprio Cartier-Bresson e ainda Robert Capa, Philippe Halsman, Nina Leen e muitos outros. Eu disse revista? Desculpe, me enganei. A LIFE foi um Evento e existe toda uma mítica em torno de seu nome.
A LIFE foi para o fotojornalismo o que foram os Beatles na música ou a Apollo 11 na corrida espacial. É difícil dimensionar a importância e o prestígio que a LIFE alcançou durante os quase setenta anos em que circulou, bem como o valor de seu arquivo fotográfico e a repercussão que suas imagens tiveram em todo o mundo. Não há nada similar hoje em dia. Só para dar uma ideia, a LIFE foi, em termos de fotojornalismo, o equivalente ao Google somado ao Youtube de nossos dias. Tudo que era importante estava lá e simplesmente não dava para viver sem.
Lembro que minha mãe, que entre outras atividades, foi professora de inglês, volta e meia chegava em casa com um exemplar da LIFE e como eu me deliciava folheando aquelas páginas, com imagens mostrando lugares que eu não fazia ideia onde ficavam e gente que eu não fazia ideia quem era.
Não comprei o The Great LIFE Photographers, mas o livro já entrou na minha lista de desejos. Enquanto isso, se alguém aí por acaso gosta e se interessa tanto como eu por fotografia, deixo aqui o convite para visitar minhas humildes fotos no Instagram. Até agora, não tem nenhuma grande foto lá, eu admito.
Mas em compensação, prometo que daqui a 1327 cliques elas vão estar bem melhores.
Publicado em 06.06.2018