De uns tempos pra cá ando sempre enjoado e com vontade de vomitar. Se eu fosse mulher, diriam que é gravidez, mas não é o caso. Ando enjoado de ouvir todos falando sobre ele, seja contra ou a favor. É como se não existisse mais nada acontecendo.
Eu sento e logo aparece alguém ao meu lado para perguntar: Você viu o que ele disse? Você soube o que ele fez? Mas não adianta eu dizer que não quero ouvir, porque logo a pessoa começa a relatar, com detalhes e minúcias, a última declaração dele. E acrescenta que nosso país está cada vez pior e tudo está dando errado por causa dele.
Eu dou uma desculpa qualquer, digo que preciso cortar o cabelo e saio. E quando sento na poltrona o barbeiro não quer saber de falar de futebol e nem do tempo. Ele precisa me contar, com detalhes, os últimos feitos dele, E acrescenta, quase em êxtase, que é impossível não perceber como nosso país está cada vez melhor e tudo dando certo, graças a ele.
Eu jogo longe a toalha e saio do barbeiro correndo. E para arejar a cabeça, pego o celular e dou uma olhada no zap. É pior. Não faz diferença se o grupo é de engenheiros, amigos da faculdade, colegas da academia, moradores do condomínio, fotógrafos amadores ou seguidores de aviões. Só se fala nele.
Em desespero eu fujo para o Face, mas é ainda pior. É lá que a baixaria corre solta, com todo tipo de ofensas e agressões. Só dá ele, seja contra ou a favor. Tudo que ele faz é repassado, aumentado, diminuído, glorificado, execrado, criticado, exaltado, xingado, ironizado, defendido e atacado.
Já pedi aos amigos e parentes, supliquei, implorei e fiz tudo que é humanamente possível, tentando lhes explicar que eu prefiro ficar de fora dessa paranoia coletiva, que estou farto desse assunto, que estou enjoado e vomitando, mas não adianta, eles continuam me repassando tudo que existe sobre ele. Contra e a favor.
É como se tivessem combinado entre si de me levar à loucura. E dentro dessa doentia obsessão grupal, porque eu me recuso a participar, algumas pessoas já me excluíram, outras me bloquearam e outras nem falam mais comigo.
E concluo que hoje em dia é obrigatório escolher um lado e depois ofender, xingar, agredir, ironizar, zoar, difamar, mentir, deturpar, minar e odiar, da forma como preferir, tudo que se refere ao outro lado.
Para quem o detesta até os paralelepípedos soltos na rua são culpa dele. Para quem o ama até as flores estão mais bonitas graças a ele. Esse é o novo modus vivendi do Brasil, e os incomodados que se mudem.
Publicado em 28.08.2019