Renato e seus Blue Caps

 

Houve uma época, lá pelos anos 60 do século passado, em que versões de músicas de sucesso estrangeiras eram frequentes. Bastava pegar uma música que tivesse estourado nas paradas da Inglaterra, Itália, França ou Estados Unidos, colocar uma letra em português e pronto, no dia seguinte ela já estava tocando nas rádios. O que não era importante era manter fidelidade às letras originais. Valia qualquer coisa, desde que desse rima. E quem fosse comparar as letras originais com suas versões em português provavelmente iria tomar um choque.

Foi assim que Girl, de Lennon & McCartney, virou Meu Bem, cantada por Ronnie Von. The Wonderer, gravada por Dion & The Belmonts, transformou-se em Lobo Mau, gravada por Roberto Carlos. Western Union, do Five Americans, emplacou aqui como Telegrama, na voz de Paulo Diniz. Hang on Sloopy, gravada por McCoys, virou Pobre Menina, megasucesso de Leno e Lílian e Deep River Mountain High, lançada por Ike & Tina Turner, transformou-se em Gostaria de Saber, de Wanderléa. Era a turma da Jovem Guarda.

Mas dentre todos os artistas jovens dos anos 60 havia uma banda que pode ser considerada como campeã das versões: Renato e Seus Blue Caps. A banda de Renato Barros construiu carreira própria, acompanhou muitos artistas famosos e participou da gravação de dezenas de álbuns, inclusive de Roberto Carlos.

Renato e seus Blue Caps - não perguntem a razão do 'Blue Caps', na época toda banda tinha que ter no nome alguma palavra em inglês - emplacaram dezenas de sucessos e sua especialidade eram as versões de músicas dos Beatles: All my Loving virou Feche os olhos. You’re going to Lose that Girl virou Meu Primeiro Amor. E Love me Do virou Sou tão Feliz. 

Uma característica das músicas da Jovem Guarda era sua ingenuidade. O amor estava no ar. Era um tal de Eu te amo, você não me ama, eles se amam, você me fez chorar, ela me deixou, ela partiu, eu chorei, ela voltou, eu sorri. E as letras continham rimas primorosas, tais como O nosso amor me enche de calor e Se eu não te ver irei morrer. E o mais incrível é que a gente gostava.

O problema dos anos 60 é que agora toda semana aparece uma notícia informando sobre a morte de alguém daquela época, num sinal inequívoco que o tempo passa e a roda gira.

Renato Barros morreu esta semana, aos 76 anos. Obrigado Renato, sua banda embalou muitos romances, namoros, lágrimas, ciúmes, brigas e reconciliações. Nossa ingenuidade foi ótima enquanto durou.

 

 

Publicado em 31.07.2020