Comida de Avião

 

Estou convencido que quem organiza os menus e prepara os pratos de bordo em voos internacionais não os experimenta. É a única explicação para quase quase todos serem tão ruins. A impressão que tenho é que as empresas estão mais preocupadas com a aparência, o estilo ou a imagem do que com o sabor, que é na verdade o que interessa ao passageiro.

Nessa última viagem pela British Airways foi oferecido logo após o embarque, como sempre, um espumante, suco de laranjas ou água. Dispensei os três. Cerca de 30 minutos após a decolagem veio o tradicional potinho de castanhas e meia hora mais tarde, a esperada refeição, apresentada sempre nas propagandas como um banquete nababesco digno das mil e uma noites. Rá!

A entrada do banquete nababesco foi uma salada de folhas parecida com a que como em casa todos os dias, acompanhada de um potinho de manteiga para passar no pão frio. Eu disse pão frio? Não, o pão estava gelado. Ninguém se deu ao trabalho de ao menos aquecer antes de servir. Depois veio o prato principal: Carne com batatas, cenouras e vagens, num molho tradicional. Nada de mais. E no final a sobremesa, um docinho de chocolate sem sabor medindo 4 centímetros, pior que os comprados em qualquer padaria de esquina. E só.

Duas horas antes da chegada foi oferecida a segunda refeição: uma entrada que até hoje não consegui descobrir o que era, semelhante a uma torta fria, mas intragável, que devolvi ao prato após a primeira mordida. E depois um sanduíche criativo, feito com pão seco e duro, impossível de morder ou de cortar e recheado com carne ardida como pimenta acompanhado de batatas fritas moles e sem gosto.

Opções de bebidas eram várias e pareciam boas, mas como eu não bebo a bordo - o efeito do álcool é multiplicado pela altitude e não me cai bem - peço sempre um refrigerante ou café com leite, o que representa outro problema: Ninguém em companhias aéreas está preparado para servir leite quente. Eles se atrapalham todos, quase entram em pânico quando alguém pede leite quente e o máximo que conseguem fazer é trazer aqueles potinhos de creamer frios para a gente misturar no café. E trazem só um, o que não dá nem para a saída. E não vou nem contar aqui o drama que é conseguir um adoçante para o café. Não vale a pena.

Ninguém espera ser servido de lagosta e caviar iraniano a bordo, como fazia a Varig em seus bons tempos, mas alguém tem que lembrar a essas companhias aéreas que beleza não põe a mesa (literalmente) e quem embarca num voo de onze horas de duração e paga caro por isso tem direito a refeições decentes, com menos ênfase na aparência e mais no sabor. E também pão quente.

Nos últimos três anos fiz três longos voos em três companhias aéreas diferentes, sempre na Business Class, e a história foi a mesma coisa em todas, no que diz respeito às refeições. A única coisa a favor da British é que sua comida consegue ser menos pior que a servida na United (nessa nada se salva).

Até hoje meu troféu de comida de bordo aceitável permanece com a TAP porque nela ao menos é servido como sobremesa um pastel de nata. Ora pois.

 

 

Publicado em 10.07.2019