Não dá, minha querida seguidora

 

Dia desses, uma antiga seguidora do site me enviou uma mensagem após ver a crítica que eu tinha feito no Insta ao presidente. De forma gentil, ela sugeriu que eu não devia usar 'essa página maravilhosa' (em suas palavras) para falar de política. E justificou dizendo que o conteúdo do site é uma das 'poucas coisas que trazem paz em meio a esse caos'. E completou dizendo que eu não devia trazer esse inferno para cá (o cá eu deduzi que era o Instagram).

Ela provavelmente não percebeu a separação que adoto em minhas 4 plataformas. No site e no YouTube o assunto é viagens, no Face o assunto é qualquer coisa e no Insta são fotos e teasers.

Mesmo assim, sua observação faz sentido. Muitas vezes eu também tenho vontade de esquecer o caos que o país está vivendo. Tenho vontade de nunca mais falar em política, nos governantes torpes e mentirosos, nas tramoias e trapaças que nos assombram a cada dia. Nas imundícies e canalhices políticas que nos sufocam, atrasam, envergonham e tiram a esperança de vermos o país um dia dar certo. 

Se cedesse à essa vontade, eu postaria somente imagens de pores do sol, de paisagens, flores, da praia, do campo ou da fazenda, ou de mim mesmo, sorrindo empoderado e alegre, como se vivesse num mundo perfeito onde tudo está bem e todos são felizes. E ganharia dezenas de likes, muito mais seguidores e vários coraçõezinhos. 

Mas não dá, minha querida seguidora. Eu não sou assim. Desculpe lhe decepcionar.

Sempre que leio algo que incomoda ou revolta, sempre que escuto uma mentira ou injustiça, principalmente vinda de quem deveria dar o exemplo, minha língua coça, meus dedos tremem, minha mão se agita e lá estou eu torpedeando. Isso já me trouxe alguns cancelamentos, discussões e xingamentos, mas não adianta, a gente é como é.

E para quem acha que é preferível fingir que não tem nada a ver com nada, e que é melhor ficar calado quando o assunto é política, eu relembro aquele célebre poema de Martin Niemöller:

Primeiro levaram os comunistas, mas não fiz nada para lhe ajudar porque eu não era comunista.
Depois levaram os socialistas, mas não fiz nada para lhe ajudar porque eu não era socialista.
Depois levaram os judeus, mas não fiz nada para lhe ajudar porque eu não era judeu.
Depois levaram os católicos, mas não fiz nada para lhe ajudar porque eu não era católico
Depois me levaram. E ninguém fez nada para ajudar porque não havia sobrado ninguém. 

 

 

Publicado em 23.07.2022