Nenhuma humorista brasileira me divertiu mais nem durante tanto tempo quanto Berta Loran. Se os americanos tinham sua Lucille Ball nós tínhamos a nossa Berta. E ela encarava a titular de I Love Lucy ou qualquer outra humorista de qualquer país de igual para igual. Fosse trabalhando com Chico Anísio, Jô Soares, Agildo Ribeiro ou em trabalhos solo Berta Loran era garantia de riso solto e muita diversão. Era só ela entrar em cena e a gente já começava a rir, como se ela tivesse um dom.
Seu nome verdadeiro era Basza Ajs, judia nascida na Polônia e que aos sete anos mudou-se com os pais e cinco irmãos para o Brasil, fugindo do nazismo. Ela conta: "Nasci na Rua Mila, 53, onde se formaria o Gueto de Varsóvia. Dividi um quarto com 14 parentes, entre pai, mãe, irmãos, avós, tios e dois funcionários trabalhando na alfaiataria em troca de comida. Meu pai dormia num sofá com as molas todas de fora. Alimento barato era batata e repolho. Minha mãe fazia uma sopa com muito alho e cebola e à noite era uma peidaria daquelas. Eu ria". Berta trabalhou muito tempo em teatro, cinema e TV até que foi contratada pela Globo.
Minhas lembranças de Berta são principalmente durante os anos 70 e 80, nos inesquecíveis humorísticos da Globo Faça Humor não Faça Guerra, Balança mas não Cai e Planeta dos Homens. Por isso, quando ontem a vi passar, simplesmente não resisti e tive que ir atrás para lhe dar um abraço, agradecer por ter me trazido tanta alegria durante tantos anos e pedir para fazer uma foto ao seu lado. Tiete total! E não fui o único, porque ao mesmo tempo duas jovens de seus vinte anos fizeram o mesmo, provavelmente reconhecendo Berta da Escolinha do Professor Raimundo.
Acho legal quando veteranos são lembrados, porque normalmente apenas jovens e bonitos costumam ser incensados. E Berta atendeu a todos com simpatia, aparentemente feliz com o reconhecimento.
Só lamento não ter tido coragem de lhe dizer o principal: Berta, eu sempre te amei.

Publicado em 05.12.2018