Meu pai tinha o hábito de recortar dos jornais as notícias que achava importantes. Ele preservou esse hábito por anos a fio, e como eu guardei alguns desses recortes consegui fazer um pequeno arquivo de eventos familiares.
Na época pré-jurássica, quando não existiam arquivos digitais nem armazenamento na nuvem, guardar jornais, revistas e livros era o que se podia fazer para tentar preservar memórias. E hoje, essas folhas amareladas, além de possuírem valor sentimental, muitas vezes trazem também um retrato de hábitos e costumes que ficaram para trás.
O recorte de jornal incluído aqui é um aviso do noivado de meus pais. Foi publicado num jornal de Bagé RS, onde minha mãe morava. Meu avô materno era gerente do Banrisul, na época uma posição quase tão importante na cidade quanto às do vigário, prefeito e delegado. E meu pai era um carioca da gema, jovem tenente da FAB que depois da guerra foi servir no RS e lá conheceu sua futura esposa, por quem se apaixonou perdidamente.
Então, naquele 23 de abril de 1946, uma 3a feira, o prestigiado jornal Correio do Sul publicou uma nota onde Mario Douglas Cabral e Sra. participavam o contrato de casamento de sua filha, Maria de Lourdes, com o tenente José Alvarez Garcia.
Não sei se jornais ainda publicam avisos de Contratos de Casamento, mas acho que não. Na verdade acho que nem existem mais esses tipos de contratos. Hoje as redes sociais cumprem a mesma função, com mais eficiência e rapidez. De qualquer forma, ter um pedacinho de papel como esse em mãos, como diz aquela propaganda do MasterCard, não tem preço.
Ao pesquisar mais alguma coisa sobre o jornal, descobri que o Correio do Sul foi um jornal editado em Bagé RS, que circulou entre 1914 e 2008 nos municípios de Bagé, Aceguá, Hulha Negra e Candiota, com notícias voltadas à comunidade local. Fundado em 20 de setembro de 1914, por iniciativa do jornalista Fanfa Ribas com um capital de vinte e cinco réis, nasceu com objetivo de defender os princípios do partido federalista de Gaspar Silveira Martins e a causa dos Maragatos após a revolução federalista de 1893. Tinha amplo noticiário local e nacional e matérias de natureza política e literária, tornando-se tradicional no Rio Grande do Sul. Tal era sua importância na história política do país que conquistou uma uma aura lendária, como atestado pelo escritor Érico Veríssimo em sua obra imortal O Tempo e o Vento.
Como se vê, a publicação do aviso do Contrato de Casamento de Maria de Lourdes e José Garcia não poderia ter sido publicada num veículo mais conceituado.
Publicado em 07.05.2021