Bohemian Rhapsody

 

No arcaico 1974 notícias vindas do planeta rock eram poucas, chegavam devagar e quase sempre atrasadas. Havia por aqui algumas revistas de música, estações de rádio que tocavam sucessos consagrados e só. Quem queria saber o que estava bombando lá fora e tinha algum dinheiro sobrando podia correr atrás de publicações importadas especializadas em música, como o jornal Rolling Stone ou a revista Circus. Fora isso a gente só sabia o que estava acontecendo depois de acontecido.

Era tudo como as estações do ano, quando lá já era primavera nós aqui ainda estávamos no outono. Exceções eram poucas e nós, que respirávamos música 24 horas por dia, nos agarrávamos a elas como se nossa sobrevivência dependesse daquilo. E a maior e mais importante exceção no Rio chamava-se Eldopop FM, uma das primeiras rádios FM do Brasil, com programação feita pelo saudoso Big Boy, e que tocava o que não se ouvia em nenhum outro lugar do Brasil.

Foi na Eldopop FM onde eu ouvi pela primeira vez a música Father to Son, tocada por um tal de Queen que ninguém sabia quem era. O som era diferente, e trazia coisas nunca ouvidas, começando por um inacreditável coral de vozes e arranjos operísticos - uma heresia no rock - mudanças de compasso, instrumentação inventiva, uma lead guitar de timbre incomum, tudo em meio a alternâncias entre suavidade e vigor. E foi uma explosão na minha cabeça.

No primeiros anos da banda o que existia era o Queen como um todo, não havia a primadonna Freddie Mercury. Mas com o tempo, a personalidade extravagante daquele cantor, seus dotes vocais e sua presença em palco tomaram conta da cena, passaram a ser conhecidos em todo o mundo, estiveram à frente de uma lista invejável de sucessos, fazendo a banda subir mais que um foguete. E o resto da história todo mundo conhece.

Por isso, quando assisti ontem o filme Bohemian Rhapsody me senti viajando no tempo, e todo esse filme – não o que estava na tela, mas outro – passou na minha cabeça. Foi praticamente uma sessão dupla.

Rami Malek está impecável no papel de Freddie Mercury, em movimento e trejeitos. A história da banda e sua ascensão para o olimpo do rock está bem contada e, como era de esperar, é centrada principalmente no vocalista, em sua homossexualidade, nos escândalos e na eterna dificuldade em lidar com fama, sucesso e pessoas.

A apresentação da banda no primeiro Rock in Rio, em 1985 – recorde global de público em um show de rock – tem destaque no filme. E a seqüência final, já com Freddie doente, na histórica apresentação do Live Aid, foi arrepiante, quase como ver a banda ao vivo. Merece destaque a técnica que permitiu unir os atores às imagens reais gravadas no evento.

Bohemian Rhapsody vai fazer fãs antigos vibrarem com as músicas e fãs novos ter a chance de conhecer a história de um mito. Quanto ao Queen, que ninguém duvide, continua fazendo mais sucesso que Elizabeth II.

 

 

 

Publicado em 15.11.2018

 

N.do A. : O texto foi escrito antes do falecimento da rainha Elizabth II