Quase todas as pessoas acreditam em anjos (querubins, espíritos de luz, almas iluminadas, o nome varia de religião para religião). A diferença é como cada um pensa que eles chegaram lá, sendo o 'chegar lá' a forma como se tornaram perfeitos e adquiriram o direito de sentar ao lado de Deus (supondo que Deus precise sentar e tenha lados, mas nem vamos falar sobre isso agora).

Há quem acredite que Deus criou anjos para Lhe ajudar na formação do universo, bem como em sua administração. Mas acreditar nisso é também acreditar em dois conceitos incompatíveis com a própria definição do que é Deus:

- Sendo Deus perfeito, eterno, criador único de tudo e de todas as coisas, que sempre existiu e sempre existirá, onipresente e onipotente, é evidente que não precisa de ajuda. Caso precisasse não seria onipotente, o que representaria a negação do próprio conceito do que é Deus.

- Sendo Deus soberanamente justo, e considerando que ele dá a todos seus filhos, ao serem criados, as mesmas oportunidades de aprendizado e evolução, atributos estes que devem ser conquistadas ao longo de incontáveis provas e experiências, frequentemente penosas, como aceitar que Ele poderia criar, desde o primeiro dia, filhos já perfeitos e sem necessidade de passar, como todos os demais, por testes e provações? Onde estaria a imparcialidade em agir assim? Isto representaria privilégio para uns e injustiça para outros. Caso agisse dessa forma, Deus estaria sendo injusto, o que também representaria a negação do próprio conceito do que é Deus.

Não. Deus não criou os anjos para Lhe ajudar. Nem os anjos nasceram anjos

Quem um dia teve a chance de encontrar uma fonte de água natural, muitas vezes um buraquinho no solo, quase imperceptível, no meio da mata, viu que nela a água nunca para de brotar. Sempre e sempre a água desta fonte continua surgindo, brotando, nascendo e fluindo, incessantemente.

Assim é Deus. Assim é a criação da vida. Deus sempre criou, cria e jamais deixará de criar. Criou a nós e tudo à nossa volta, o que vemos e não vemos, o que conhecemos e o que desconhecemos, o que entendemos e o que ainda somos incapazes de compreender.

Assim como nós, também os anjos foram criados em um determinado momento. Assim como nós, também os anjos foram criados ignorantes e imperfeitos. Assim como nós, também os anjos receberam oportunidades de evoluir e aprender. E assim como nós, também passaram por incontáveis atribulações, testes, provações e desafios ao longo de várias existências. Podemos dizer que, assim como nós, também os anjos brotaram da fonte divina que é Deus.

Mas como então explicar que anjos sejam tão perfeitos quando comparados a nós? A resposta é que eles foram criados muito antes de nós. E ao longo de incontáveis existências, provas e testes, conseguiram atingir um grau de perfeição que para nós ainda está muito distante.

O que pode parecer ilógico ou herético para alguns é perfeitamente coerente com o conceito da eternidade de Deus. Caso Ele tivesse criado o universo, todas as coisas e todos nós ao mesmo tempo, o que Ele teria feito antes do momento da criação? Ou depois? Teria passado a  eternidade antes da criação sem nada fazer? E após o momento da criação passaria o restante da eternidade também inativo? Apreciando sua obra?

Não. Supor que Deus possa ser inativo e contemplativo ao longo da eternidade é minimizar Seu poder. E demonstra como ainda estamos longe de  compreender sua verdadeira natureza.   

Nossa incipiente ciência já constatou que o Universo está constantemente em expansão e isto, embora desafie a capacidade de compreensão de muitos, pode representar um indício de como nada é estático. Na obra perfeita de Deus, que se manifesta através da Natureza e do Universo, que ainda muito pouco compreendemos e quase nada somos capazes de intuir, tudo evolui e se transforma incessantemente.

Galáxias se formam, planetas nascem, oceanos surgem, continentes se movem, a água brota das fontes e a vida é incessantemente criada em todos os lugares do universo.

Tudo progride, cresce, aprimora-se e transforma-se, formando uma sequência evolutiva interminável e perfeita, espelho do poder Divino de Deus. E desse maravilhoso sistema nós também somos parte. 

Os anjos um dia foram como nós. E nós, um dia, poderemos ser como eles.  

 

 

Publicado em 09.10.2020