Minhas Copas

 

Na minha primeira Copa do Mundo eu morava em Canoas RS e só lembro que para ouvir os jogos grudava os ouvidos num rádio que para mim era enorme, tentando entender, apesar dos chiados, o que o locutor narrava. Meu pai explicava que os jogos eram no Chile e que o Chile era longe. E lembro de ter ficado muito feliz com a vitória do Brasil na Copa, embora não entendesse bem o que era a tal Copa. 

Na Copa de 70 eu já era gente e lembro que em dias de jogo saíamos do colégio à noite gritando a plenos pulmões na porta de todos os ônibus que paravam: Brasil-il-il !! E depois disfarçávamos e saíamos caminhando em frente, como se não tivéssemos nada a ver com aquilo. Altas transgressões juvenis.

Já na Copa de 82, quando o Brasil foi eliminado pela Itália senti uma depressão tão profunda que levei alguns dias para me recuperar. Lembro que na tarde depois do jogo fui à praia para tentar espairecer mas não consegui. Havia gente sentada na areia chorando em volta e acabei voltando para casa ainda mais deprimido.

Mas na Copa de 94 aconteceu nossa vingança, quando o italiano Baggio chutou o pênalti  por cima do travessão e deu o Tetra ao Brasil. Acho que só não morri de felicidade naquele instante porque era jovem e tinha um coração resistente, mas quando a bola passou direto entrei em transe, fiquei fora de mim e berrei de alegria com tanta força e por tanto tempo que passei três dias rouco.

Na Copa de 2002, antes da final com a Alemanha, já sabia que na noite após o jogo eu não estaria normal. Tinha certeza que estaria eufórico ou deprimido, conforme o resultado. E não deu outra. Depois daquela final no Japão, num domingo de manhã e ainda vestindo pijamas, chorei de alegria e emoção após os dois gols de Ronaldinho Fenômeno.

Mas de 2002 para cá, devido aos fiascos da Seleção, e também ao meu coração não ser mais o mesmo, resolvi adotar uma técnica diferente: Assisto os jogos tirando o som da TV nos momentos mais angustiantes. Já percebi que não há nada mais ameaçador ao meu coração do que ouvir o Galvão Bueno relatando um ataque do time adversário. É sofrimento demais e tenho receio de enfartar. 

Pode parecer mentira, mas no dia a dia não dou a mínima para futebol. Não torço por nenhum time, não conheço os jogadores, não sei qual time está na frente ou atrás nas tabelas e muito menos quem ganhou ou quem perdeu. Na verdade, se todos os times sumissem da face da Terra de uma hora para outra eu não ia perder sequer uma hora de sono. 

Não sei como explicar esse meu estranho surto de torcedor verde-amarelo  cada vez que chega uma Copa, e tenho certeza que é algo que vai além do futebol. Quem sabe um bom psicólogo tenha condições de responder. E não concordo com quem diz que nosso país tem tantos problemas que torcer pelo Brasil é alienação. Não são 90 minutos em que paramos para assistir um jogo que vão tornar o Brasil pior. O que o torna pior é o que certas pessoas fazem em todos os outros minutos, horas e dias do ano.

Por isso já decidi que nessa Copa eu vou torcer de novo e dessa vez com som na TV. Mas confesso que estou preocupado, pois não sei o que será pior para meu coração: O Brasil ser eliminado ou o Brasil ser Hexa. Por isso, se depois de algum jogo dramático do Brasil eu sumir e deixar de fazer posts aqui, vocês já sabem o que provavelmente me aconteceu.

 

 

Publicado em 16.06.2018