Quase dá pra enganar, mas quem olhar essa foto com atenção verá que nos braços dos personagens não existem suásticas, e sim a letra grega Sigma. Se a foto não fosse preto e branco daria para ver que as camisas não são negras, e sim verdes. Se tivesse áudio seria possível ouvir que eles não estão dizendo Heil, e sim Anauê. E embora a foto aparente ter sido feita na Berlim dos anos 40 foi feita no Rio de Janeiro dos anos 30.
O jornalista Pedro Doria lançou um livro resgatando a história do Movimento Integralista no Brasil, entre 1932 e 1937, quando foi proibido por Getúlio Vargas. Esse é um daqueles temas pouco discutidos entre nós, porque relembra um lado de nossa história considerado vergonhoso, e que muitos preferem esquecer.
O movimento integralista, inspirado no fascismo italiano de Benito Mussolini, tinha características ultra nacionalistas, conservadoras, de extrema direita e seus lema era Deus, Pátria e Família. Avante! Quem poderia ser contra tão nobres ideais não é mesmo? Mas por trás do lema se escondiam sentimentos nada nobres, como o desprezo pela democracia, o autoritarismo, a intolerância com idéias divergentes e a divisão da sociedade em classes, onde alguns teriam mais direitos e privilégios que outros, conforme sua devoção ao partido e seu pensamento ideológico.
Embora coisas assim possam hoje parecer abomináveis a todas as pessoas de bom senso, nos anos 30 do século passado este movimento seduziu muita gente, que para combater o comunismo, jogou às favas os escrúpulos e se deixou seduzir pela promessa de uma 'necessária limpeza' num Brasil corrupto e dominado por políticos interesseiros. Estima-se que o integralismo tenha tido quase um milhão de adeptos no Brasil, um número surpreendente considerando-se a população do país à época.
Lembro de meu pai contando que muitos de seus tios eram integralistas, e que quando o movimento foi proibido foi um corre corre geral e todos fugiram, se escondendo no interior para evitar a prisão.
O livro de Pedro Doria foi lançado em momento oportuno, porque vemos surgir novamente no Brasil movimentos desse tipo, embora (ainda) sem insígnias nem uniformes. No fundo são todos mais do mesmo, movimentos extremistas que se propõem a libertar o país de suas mazelas, da corrupção e roubalheira, mesclando idéias religiosas a promessas familiares e altruístas. Propostas que não passam de biombos para tentar dissimular seus verdadeiros objetivos.
A história já mostrou diversas vezes qual é o desfecho de aventuras desse tipo.
Publicado em 28.08.2020