Quando comprei o LP da banda Gypsy, há mais tempo do que me atrevo a dizer, foi apenas por causa da música 'In the Garden', que na época me fascinou. Sim, naquela época a gente comprava LPs só por causa de uma ou duas músicas.
Hoje, olhando para trás, acho que o impulso decisivo para eu decidir usar parte da minha magra mesada para arcar com aquela grande despesa foi a capa do álbum, que de alguma forma exerceu forte influência sobre mim.
Na capa daquele LP havia o desenho de uma graciosa jovem, em perfil, de traços finos e delicados e cuja expressão facial guardava um fascinante toque de mistério e fantasia. Somente muitos anos mais tarde eu iria descobrir que a capa daquele LP tinha acabado de me apresentar à obra de Alphonse Mucha.
O artista tcheco, que tem seu nome indelevelmente associado ao movimento Art Nouveau, começou sua carreira quase por acaso quando, em 1894, o pintor que faria o cartaz da peça Gismonda, estrelada por Sarah Bernard, não se encontrava em Paris, e por isso outro artista foi chamado para pintar o cartaz de propaganda. Acabou que a obra do substituto se transformou num sucesso, e fez com que, dali para a frente, Mucha fosse cada vez mais requisitado para outros trabalhos. O resto é história.
Alphonse Mucha viveu entre 1869 e 1939, e sua obra é repleta de figuras femininas, musas suaves e etéreas, geralmente envoltas em flores, guirlandas, e outros componentes visuais, criando um clima de beleza idílica e levando suas pinturas a fazer um sucesso arrebatador, e por extensão, trazendo ao artista fama e prestígio.
A partir dos anos 60, a obra de Mucha foi resgatada pela cultura pop da época, e passou a ser reproduzida à exaustão em posters, painéis, ilustrações, capas de disco e onde mais fosse possível. É exatamente dessa época a capa do álbum da banda Gipsy, que me chamou tanta atenção.
Não é exagero dizer que todos nós, em algum momento da vida, já apreciamos alguma obra de Mucha.
Lembrei disso porque acabou de ser inaugurada no Centro Cultura do Banco do Brasil, centro do Rio, a exposição Alphonse Mucha, o Legado da Art Noveau, que já passou por Madri, São Paulo, Paris e New York, organizada por Tomoko Sato, curadora da Fundação Mucha, com diversas de suas obras.
Não dá pra perder.
Publicado em 28.11.2020