Há exatos 20 anos vivemos um dos dias mais angustiantes de nossas vidas. Tínhamos chegado a Washington dois dias antes, e naquela manhã de domingo, o programa era visitar o prédio do Pentágono, onde fizemos algumas fotos, entre elas a mostrada nesta página. Menos de 48 horas depois, aquele trecho do prédio deixaria de existir.
Na manhã de 11 de setembro de 2001 tomávamos café num hotel situado a 3 km do Pentágono quando a TV começou a mostrar o que naqueles primeiros instantes ainda era noticiado como um acidente envolvendo um pequeno avião que tinha se chocado contra uma das torres gêmeas. Mais alguns minutos e tudo ficou claro: não havia sido um acidente.
Incrédulos, vimos a seguir o segundo avião chocar-se contra uma das torres. E em mais alguns minutos a imagem da televisão passou de New York para Washington, e começou a mostrar o que acontecia quase ao nosso lado: O Pentágono em chamas. O repórter, se esforçando para conter o pânico, repetia: What's next? Em pouco tempo, sirenes de todos os tipos eram ouvidas em frente ao hotel e ambulâncias e carros de bombeiros dirigiam-se freneticamente na direção do Pentágono. Naquele momento ficou claro que o país estava sendo atacado e ninguém sabia quais seriam os próximos alvos. Subitamente vimos o que pretendíamos serem férias tranquilas transformadas num filme de terror.
Washington foi isolada, colocada em situação de emergência nacional e um confuso esquema de evacuação foi posto em prática, enquanto os canais de TV mostravam ao vivo o centro de Washington, com centenas de pessoas caminhando de um lado para outro, sem chegar a lugar nenhum.
Nenhuma informação era exata. Prédios governamentais, escritórios, lojas, escolas e atrações turísticas em Washington foram fechadas. A TV informou que o presidente tinha sido levado às pressas para um abrigo à prova de bombas nucleares, dentro de uma montanha. No rádio os locutores repetiam a mesma pergunta: What's next? Embora ninguém dissesse, era evidente que todos temiam o pior: um ataque devastador à capital do país. O filme de terror não era filme, era real. Nossos planos turísticos para aquele ano estavam indo por água abaixo, ou talvez até mesmo nossas vidas estivessem ameaçadas.
Decidimos que seria melhor ficar longe de Washington. Se uma bomba explodisse na cidade, ao menos nós não estaríamos perto. Pegamos o carro e fomos para o mais longe possível, passar o dia num shopping. Minhas pernas tremiam enquanto eu dirigia, eu estava meio fora de mim. Entrei numa contramão, quase me envolvi num acidente e escapei por pouco de ser atropelado por imensos caminhões de bombeiros que seguiam freneticamente na direção do Pentágono. Tudo era surreal naquela manhã e nós éramos figurantes de um filme catástrofe.
Ao chegarmos no shopping ele também estava fechando, pois o medo e os boatos se espalhavam rapidamente. Uma vendedora disse que tinha sido anunciado o ataque de um navio russo contra um destroier americano no Pacífico (o que nunca aconteceu), enquanto em outra loja nos informaram sobre um grande ataque terrorista a pouca distância (também era boato).
No final da tarde, com a situação um pouco mais calma, decidimos que podíamos voltar à cidade, o que não foi fácil, pois muitas avenidas que levavam ao centro tinham sido interditadas e tivemos que dar muitas voltas para conseguir chegar no hotel.
Não conseguimos ligar para ninguém no Brasil nem tivemos como tranquilizar a família. Telefones não funcionavam. Redes sociais não existiam e na época nenhum de nós tinha celular. Nem mesmo emails funcionavam. Todas as redes tinham caído.
À noite, depois de muitas considerações e até mesmo por falta de alternativas - todos os voos no país haviam sido suspensos por prazo indeterminado - decidimos que o melhor a fazer era seguir nosso roteiro original. Respiramos fundo e no dia seguinte pegamos a estrada em direção à costa oeste, passando em frente aos destroços do Pentágono, ainda fumegando.
Aquele início de férias nunca mais seria esquecido.
Publicado em 11.09.2021