As viagens de Gulliver

 

As viagens de Gulliver é lembrado como um livro infantil porque a história se passa numa terra habitada por anõezinhos que se surpreendem com a chegada de um gigante. A fantasia teve dezenas de publicações ilustradas, foi adaptada para o cinema e fez muito sucesso. Quem nunca ouviu falar nas Viagens de Gulliver?

Só que o famoso conto não foi escrito para crianças. Publicado pela primeira vez em 1726, a prestigiada obra do clérigo irlandês Jonathan Swift foi escrita como uma sátira social, tomando como tema histórias de viajantes, comuns no século 18, sobre lugares fantásticos e estranhos, e em cima delas, fazendo diversas críticas sociais.

A obra foi um sucesso imediato, e se referindo a ela Jonathan Swift diria mais tarde que a tinha escrito para irritar o mundo e não para diverti-lo. De fato o livro tem ironias e críticas mordazes, e diversos dos personagens retratados foram inspiradas em figuras da época, com quem Swift tinha rixas políticas ou religiosas, inclusive com a rainha Anne (reinou entre 1702 e 1707), que tinha considerado blasfemo o conto A Tale of a Tub, anteriormente escrito por Swift. Por exemplo, o trecho em que o gigante apaga o incêndio urinando sobre o Palácio Real de Lilliput é uma ironia ao acordo de paz selado entre Espanha e Inglaterra, considerado vergonhoso por muitos ingleses.

Embora a parte mais conhecida da obra seja a que se refere a Liliput, o país dos anõezinhos, o livro é composto de quatro capítulos: Viagem a Lilliput, Viagem a Brobdingnag, Viagem a Laputa, Balnibarbi, Luggnagg, Glubbdubdrib e Japão e Viagem à Houyhnhnms (o nome imita o relincho de um cavalo), sendo que nesta última Gulliver chega a uma terra habitada por cavalos inteligentes, sensíveis e extremamente cultos, e que ele passa a admirar. No entanto, após algum tempo vivendo entre os cavalos, Gulliver recebe a triste notícia que não poderia mais ficar na terra dos Houyhnhnms, pois a natureza imperfeita e rude do viajante poderia representar perigo para a sobrevivência dos Houyhnhnms, e ele é obrigado a deixar o país e voltar para a bárbara Inglaterra. De volta à sua casa, Gulliver passa então o resto da vida saudoso daquele povo pacífico e cordial, os cavalos, só se sentindo melhor quando vai ao estábulo de sua casa.

De fato, o livro de Swift é repleto de mensagens, críticas e ironias, e apesar de escrito em tom amargo e de denúncia social, sua obra permite até hoje várias leituras: Fantasia, surrealismo, humor e até mesmo pura diversão.

Essa edição completa das Viagens de Gulliver tem prefácio de George Orwell (o gênio autor de 1984 e A Revolução dos Bichos), foi lançada pela Editora Penguin, e inclui os mapas dos países visitados por Gulliver.

Encontrei essa edição semana passada, e estou me deliciando com cada página, enquanto constato que a espécie humana nada mudou desde 1726.

 

 

Publicado em 19.09.2020