Não é um Road Movie, nem uma história sobre dois improváveis amigos, nem sobre o racismo no sul americano, nem sobre pessoas diferentes que são obrigadas a se aturar, mas é um pouco disso tudo. É a história de um pianista virtuoso, letrado, culto, negro e gay, que vive sozinho e precisa encontrar um motorista que seja também guarda costas, para conduzi-lo em uma turnê por vários estados americanos.
E esse motorista encontrado por ele é um carcamano grosso, ignorante, com amigos suspeitos no submundo de NY e com uma família barulhenta. Mas que precisa desesperadamente arranjar trabalho.
A história poderia ser apenas mais do mesmo, semelhante a dezenas de outros filmes que contam relacionamentos que tem todos ingredientes para não dar certo, mas que, desafiando as probabilidades, acabam dando certo.
Mas há um algo mais nessa história, apresentado de forma quase oculta: A dúvida sobre quem é o personagem central da história: Se é Mahershala Ali, o rapper americano que dá um show no papel do pianista virtuoso decidido a enfrentar o racismo do sul americano ou se é Viggo Mortensen, galã da saga Senhor dos Anéis, agora irreconhecível com sua barriga também virtuosa, e que dá outro show, no papel do motorista guarda costas.
E ao longo das estradas americanas surgem situações diversas envolvendo os dois, em bares, hotéis, prisões, fazendas sulistas (plantations) e delegacias de polícia, fazendo com que, pouco a pouco, seja costurada entre eles uma aliança e amizade genuínas, além da constatação que ambos tem muito a aprender e ensinar um ao outro.
O filme tem vários momentos hilários, alguns emotivos e outros revoltantes, principalmente quando mostra aspectos da odienta segregação racial que até os anos 60 imperava no sul americano. Quanto a isso, o nome do filme – Green Book – já diz a que veio.
The Negro Motorist Green Book era uma publicação americana que servia como guia a todos viajantes negros e listava diversos estabelecimentos, hotéis, bares, restaurantes etc que poderiam ser frequentados por negros sem correr risco de agressões ou discriminações raciais.
Eu não esperava muito desse filme, mas vinte minutos de projeção foram suficientes para me mostrar que eu estava completamente errado. Green Book é um filme sensacional, merece todo sucesso que está fazendo e não deve ser perdido.
Já é meu candidato ao Oscar de melhor filme do ano.
Publicado em 29.01.2019