Em quantos lugares diferentes uma pessoa mora, em média, durante a vida?
Resolvi outro dia me fazer essa pergunta e descobri que já morei em oito lugares diferentes. E como nesse dia estava perto da minha primeira residência oficial (barriga de mãe não conta) resolvi ir em sua busca. Em mãos eu tinha apenas um nome e um endereço (Edifício Nova York, rua Santo Antonio 276) e uma foto antiga, mas ao chegar lá não vi nada semelhante àquela imagem amarelada. Até me dar conta que o prédio estava agora escondido por grades, essa maldição dos novos tempos, mas que por trás ainda era o mesmo.
Me esgueirei portão adentro aproveitando que um morador estava saindo - enquanto dava para ele um sorriso e um bom dia, como se fôssemos bons amigos e vizinhos, ao que ele me respondeu com outro sorriso e outro bom dia, comprovando que grades e portões não servem para nada – e cheguei ao pátio interno. E ali parei.
Tudo ainda estava lá. A janela com o gato sempre ameaçador e garras afiadas que faziam a mão da gente sangrar. O pátio imenso, ideal para se empurrar caminhões de madeira em alta velocidade até que eles quebrassem as rodas. E os pilares quadrados, perfeitos para se brincar de esconder certos que ninguém ia nos encontrar.
Mas o que mais me chamou a atenção foi ver, em frente à porta de entrada, uma jovem mãe de 26 anos, empurrando o carrinho de seu bebê e sorrindo para mim.
Enquanto isso as pessoas entravam e saíam do prédio, apressadas e sem ligar para nada. E eu ali parado, perdido em algum lugar do tempo, vendo coisas que mais ninguém via.
Quem disse que não existem máquinas de viajar no tempo? Não sei o que é mais emocionante, descobrir lugares novos ou reencontrar lugares antigos, mas sei que cada um deles deixa marcas em nossa jornada.
Publicado em 05.10.2018