David Bowie foi eleito numa pesquisa recente da BBC o maior artista do século XX. Sentimentalismo e exageros britânicos à parte, é inegável que ele deixou uma marca indelével por onde passou, e olhem que ele passou por muitos lugares ao longo de sua agitada e criativa vida.
Cantor, escritor, compositor, ator, mímico e intelectual, dizer que David foi um Camaleão já tornou-se lugar comum. O que impressionava em Bowie era sua capacidade infinita de inovar e surpreender, em qualquer campo em que se aventurasse.
Lembro que a primeira vez que ouvi falar dele foi em 73, quando lançou o álbum Alladin Sane (trocadilho com A Lad Insane, inglês para 'um sujeito louco'). Aquele álbum tinha a música The Jean Genie, rock que na época me deixou empolgado de tanta emoção. Desde então passei a seguir sua trajetória.
Também não dá pra esquecer sua performance em Fome de Viver/The Hunger, filme com Catherine Deneuve e Susan Sarandon, nem do show que ele deu em Labirinto, como uma misteriosa criatura, que não por acaso tinha tudo a ver com ele próprio.
Era visível que o tempo tornava David cada vez melhor em tudo que fizesse, e se quando jovem ele havia criado o alter ego Ziggy Stardust (que quase engoliu o próprio Bowie) e abusava do visual andrógino, pinturas estranhíssimas e roupas extravagantes, depois de velho tornou-se sóbrio, discreto e extremamente elegante ao vestir. Quem não o conhecesse diria mesmo que ele era um típico inglês careta das Midlands.
Não deixa de ser divertido lembrar que no início de sua carreira David queria adotar o nome artístico de David Jones, mas como esse nome já era usado por um dos Monkees (banda rival dos Beatles, com sucesso estrondoso nos anos 60) David, para evitar confusão, teve que se contentar com o nome David Bowie (seu nome completo era David Robert Jones). E é irônico pensar que atualmente muita gente não sabe quem foram os Monkees, enquanto Bowie virou celebridade universal.
David Bowie nasceu em Brixton, subúrbio situado ao sul de Londres, e em sua homenagem o artista australiano James Cochran pintou numa parede do bairro um grafite que já entrou para a relação das atrações da cidade, além de local de romaria dos fãs.
Então é claro que eu também não poderia deixar ir lá, prestar meus respeitos ao eterno camaleão do rock e fazer algumas fotos, como essa abaixo.
O mural de James Cochran foi inspirado na capa do álbum Alladin Sane - aquele mesmo que me virou a cabeça em 1973 - e a imagem não poderia ter sido melhor escolhida para homenagear um cara muito louco, muito bom, muito tudo e muito vivo. Até hoje.
Publicado em 03.02.2019