Sim, 2020 não é um ano para amadores e há que ter resistência para seguir em frente.
Atualmente nada parece ser suficientemente complicado que não possa ficar um pouco pior. Não bastassem a pandemia, a crise econômica e um presidente sociopata, agora a moda é derrubar estátuas. Está em andamento um revisionismo histórico, destinado a remover dos pedestais todos aqueles que, em algum momento de suas vidas, pisaram na bola.
Monteiro Lobato já foi vítima de um movimento semelhante, quando tentaram banir e reescrever seus contos. Foi acusado de ser racista e politicamente incorreto. Winston Churchill, o grande herói britânico, um dos responsáveis por salvar a humanidade da tirania nazista também está sendo acusado de racismo, e sua estátua, localizada em frente ao Big Ben, precisou ser protegida para evitar ser pichada. Monumentos de diversas personalidades em outros países enfrentam a mesma revolta. Como então essas pessoas puderam, em algum momento do passado, ser admiradas, exaltadas ou homenageadas?
Para mim, a razão é que todos nós, assim como o mundo, somos outros. De lá para cá todos mudamos a forma de pensar e de ver as coisas. O que era considerado aceitável e justo há cem anos, não é mais. Racismo, escravismo, preconceitos étnicos, abuso sexual e coisas semelhantes são agora abomináveis e não podem mais, em hipótese alguma, ser toleradas. Mas isso não justifica destruir estátuas, derrubar monumentos nem queimar livros. Caso contrário deveríamos começar pela demolição das pirâmides egípcias, erguidas como homenagem ao Faraós, graças ao trabalho de milhares de escravos.
Devemos considerar o contexto social de cada época, mesmo porque, mais do que apenas nomes homenageados, tratam-se de testemunhos de outras eras, obras que fazem parte da história. Nenhum de nós deseja se equiparar aos Talibãs, que explodiram as gigantescas estátuas de Buda no Afeganistão, chocando o mundo e privando a humanidade de obras de arte milenares. O que fazer então?
Acho que uma ótima solução para isso foi encontrada pelos húngaros, assim que seu país foi libertado do comunismo. Como em todos países dominados por comunistas, as cidades húngaras tinham pelas ruas dezenas de estátuas homenageando Stálin, Lênin e outros ícones do partido. A solução encontrada foi removê-las e levá-las para um lugar afastado, no subúrbio.
Nesse local foi criado um parque de estátuas comunistas, como um testemunho histórico dos anos difíceis que o país atravessou, e ao mesmo tempo uma curiosidade turística. Vai lá quem quer, seja para se aprender, lamentar ou se divertir. E ao mesmo tempo preserva-se a história. Este parque fica situado na cidade de Budapeste, Hungria e seu nome é Szoborpark.
Publicado em 19.06.2020