Martha, te escrevo hoje para dizer que fiquei muito chocado contigo. Desculpe a sinceridade, mas fiquei mesmo. Tu sempre fostes minha ídola (não sei se existe essa palavra, mas usei assim mesmo), sempre esperei ansioso por tuas crônicas dos domingos e sempre as li com prazer. Às vezes até lia duas ou três vezes seguidas. Muitas vezes me identifico tanto com teus textos que até fico pensando 'nossa, como é que ela pode sentir tudo tão igualzinho a mim'. Pois é, isso é pra ti ver como tudo que escreves pra mim é o máximo.
Não sei se lembras, mas uma vez, há muitos anos, tu nem eras ainda tão famosa, eu li um texto teu na Zero Hora que me emocionou muito. Então eu te mandei um email (naquela época todo mundo usava email) falando como eu tinha gostado e tu até me respondestes. E super simpática. Lembra? Bom, acho que não, mas não importa. Outra vez te encontrei no Santos Dumont, tu tinhas acabado de chegar no Rio e estavas toda apressada. E eu, todo alegre, fui falar contigo, mas na hora H não tive coragem e passei direto. Bom... isso também não importa.
Mas o que eu queria mesmo dizer é que hoje pela primeira vez em tantos anos tu me decepcionaste. No último domingo escrevestes que vais fazer, pela primeira vez na vida, uma tatuagem. Uma tatuagem Martha! Mas o que é isso? O que te deu na cabeça guria? Olha, eu sempre abominei tatuagens, pra mim ainda é aquela coisa de piratas, sabe? Com papagaio no ombro e tudo, sabe como é?
Eu sei, eu sei, todo mundo hoje em dia tem tatuagens, todo mundo faz, é fashion, é top é isso e aquilo, mas não adianta, não passa pela minha garganta. Podem me chamar de velho, mas não tem jeito, não gosto e pronto. Eu espero até que o pessoal da minha família não leia isso, porque tem um monte de gente na família com tatuagens. De bichos, com desenhos, com frases, com símbolos e até uns trecos meio esquisitos que eu nem sei bem o que são. Eles chegam, mostram todos orgulhosos e eu só digo: legal. Mas (não conta pra eles) eu tô mentindo, eu acho todas horríveis. Bem, nem todas. Tem algumas até que são bonitinhas, mas eu nunca admito.
Nós, Martha, os não-tatuados, somos uma espécie em extinção. Somos os poucos que ainda restam para contar às gerações futuras a história de como eram as peles humanas ao natural. Bem, pelo menos éramos, não é Martha? Agora tu te bandeastes, passastes para o outro lado. Francamente! Olha, vou parar por aqui, mas de agora em diante estamos de relações cortadas viu? E eu nunca mais vou ler um texto teu.
PS: Na próxima coluna posta uma foto da tua tatuagem. Vou ficar esperando ansioso. E se ficar bonitinha quem sabe eu até me animo a fazer a minha primeira. Abração.
Publicado em 03.10.2017