Qual dupla do cinema seria mais apropriada para comparar a Pazuello e Bolsonaro? O Gordo e o Magro? Não, esses eram trapalhões, mas eram simpáticos. Debi e Lóide? Também não, eram estúpidos, mas tinham bom coração. A verdade é que não existe nenhuma dupla do cinema, na comédia ou tragédia, que se equipare ao presidente e seu ministro da saúde.
Pazuello, apesar de não ser comediante, já se transformou em figura cômica. Ninguém mais o leva a sério. E é impossível não constatar que estamos vivendo uma tragicomédia ao vê-lo prometer, dia sim e outro também, milhões de doses de vacinas, vindas ninguém sabe de onde nem quando. Pazuello lembra o Pateta, que tropeça no próprio pé, derruba louças e fala bobagens cada vez que abre a boca. No cinema ele seria um personagem melancólico, digno de pena, caso fosse possível sentir pena de alguém tão vergonhosamente subserviente. De qualquer forma, comparado a seu mestre, Pazuello é um santo homem.
Já o mestre de Pazuello é um caso à parte.
Quando eu tinha 7 anos era obrigado a praticar leitura em voz alta. A professora escolhia um texto e cada aluno tinha que ler para os outros ouvirem. O objetivo era ensinar a falar bem, pontuar frases e transmitir textos de forma clara.
Quando escuto Bolsonaro falando fica evidente que ele nunca fez nada parecido ou se fez foi reprovado com louvor. Cada vez que o presidente abre a boca, seja para dar uma opinião, fazer um pronunciamento ou (des)informar algo ele nos demonstra, de forma clara e evidente, sua profunda limitação intelectual. Tropeça nas próprias palavras, comete erros crassos de português, não consegue formular frases inteligíveis nem se expressar de forma lógica. Qualquer estudante de segundo grau faria melhor.
Bolsonaro dá a impressão de ter sido pego na rua, ao acaso, às pressas, em quem colocaram um terno e gravata, uma faixa no peito, empurraram para a frente de uma câmera e colocaram nas mãos um papel para ler. Ele é o retrato perfeito de quem nunca abriu um livro, detesta leitura, nunca estudou nada nem nunca teve interesse em aprender coisa alguma.
Mas quem dera que nosso único problema fosse sua ignorância e despreparo.
Os únicos momentos em que Bolsonaro transmite autenticidade é quando fala de improviso para seus seguidores, seja no cercadinho do Alvorada ou em discursos. Nestas ocasiões ele revela como realmente é: cruel, desumano e perverso. Ao cuspir seus sarcasmos e ofensas aos brasileiros ele está sendo ele mesmo. Se fosse um personagem de ficção com certeza seria alguém materializado a partir das profundezas do inferno, para nos dividir e destruir. Uma mistura de Conde Drácula com Frankenstein e João Bafo de Onça.
Menos mal que, como reação ao imobilismo, incompetência e descaso governamental no enfrentamento da pandemia, vemos surgir reações em todos os lados. A sociedade se mobiliza, procura alternativas, assume a dianteira, reage e vai à luta.
Formou-se um consenso que não é mais possível permanecermos parados, esperando de braços cruzados o dia em que a solução mágica cairá dos céus. Porque talvez não estejamos mais vivos quando esse dia chegar.
Publicado em 15.03.2021