O Kit

 

Todo mundo já viu a cena, você está caminhando na praia e de repente vê um grupo caminhando ou sentado e um deles está com uma cuia de chimarrão na mão e uma garrafa térmica embaixo do braço. Nem é preciso perguntar: Ou são gaúchos ou são hermanos. A única diferença é que gaúchos preferem cuias de porongo, enquanto hermanos preferem cuias metálicas. Aqui no Rio eles  podem ser encontrados principalmente na praia, mas em Porto Alegre, por exemplo, quem for passear num parque ou na beira do rio vai ver a mesma cena, só que em quantidades bem maiores.

O hábito de sair para a rua com cuias e garrafas térmicas a tiracolo é tão comum que no sul se encontra à venda em muitos lugares o 'kit-chimarrão', composto por cuia, bomba, garrafa térmica e estojo de couro para acomodar todas essas peças, alguns deles decorados com gravuras e desenhos em relevo. 

Não sei de onde vem esse hábito - ou necessidade - de meus conterrâneos de não sair de casa sem levar o chimarrão a tiracolo. Herança cultural? Hábito? Vício? Carência afetiva? Necessidade de deixar claro as origens?

Eu gosto de Pepsi Zero, mas nem por isso cada vez que vou à praia saio com um garrafão de dois litros debaixo do braço. Eu adoro vinhos malbec e carmenère, mas nem por isso levo uma garrafa a tiracolo cada vez que vou ao parque. E só para deixar claro, eu também gosto de um chimarrão, mas em casa e preferencialmente num papo com amigos. E nem precisa acender o fogo de chão.

Ainda não consegui desvendar o mistério da irresistível  necessidade que gaúchos  e hermanos sentem de levar cuia e garrafa térmica  a tiracolo cada vez que saem às ruas, mas se algum de meus conterrâneos se dispuser a me esclarecer eu fico desde já tri-agradecido.

 

 

Publicado em 20.06.2022