A companhia aérea australiana Qantas vai oferecer voos com 19 horas de duração, ligando Sidney a Nova York e Londres sem escalas. Há alguns anos isso seria impensável, mas agora, graças às novas gerações de aviões, como o Airbus A350 e o Boeing 787, isto já é possível.
Vôos como estes estão surgindo graças à nova demanda global, pois o número de viajantes aéreos triplicou nos últimos vinte anos, e também como consequência da ascensão de milhões de pessoas à classe média, fazendo com que mais gente queira viajar e tenha condições financeiras para isso.
A dúvida agora é como o organismo humano irá reagir quando submetido à pressurização das cabines durante tantas horas. Mesmo em aeronaves modernas, projetadas para reduzir os efeitos colaterais da pressurização, isto pode causar mal-estar a algumas pessoas. Por esta razão, funcionários da Qantas estão sendo convidados a viajar como cobaias nestes voos de longuíssima duração, para que as empresas possam avaliar suas reações.
Tenho um histórico de viagens cansativas inesquecíveis, sendo que o primeiro lugar vai um voo feito pela Air France há muitos anos, a caminho de Paris, sentado na última fileira da cabine, onde os assentos não reclinavam, o que só fui descobrir ao sentar, quando já era tarde demais. Foi uma jornada espremida entre o passageiro da frente (que reclinou toda sua poltrona) e meu encosto ereto, um pesadelo de 12 horas.
E o segundo lugar na categoria viagens miseráveis vai para o voo feito pela United entre Chicago e Rio, numa poltrona do meio, sem poder me virar para nenhum dos dois lados e espremido pela frente sem poder cruzar as pernas. Lembro que passei mais tempo na copa, conversando com os comissários, do que sentado. Volta e meia eles me mandavam para a poltrona, mas logo depois eu estava de volta. Era menos cansativo ficar de pé do que naquele assento. Foram 11 horas torturantes.
Como não tenho mais idade para essas torturas, nos últimos anos tenho preferido, ao menos em rotas longas, fazer todo possível para conseguir upgrades para a classe business, ou até mesmo pagar um pouco mais para viajar com conforto, com assentos cuidadosamente escolhidos. Viajar em classe business, em certos dias da semana e com bilhetes comprados com antecedência, não é tão mais caro quanto se imagina.
É por isso que estou acompanhando com atenção este experimento da Qantas e sua conclusão sobre as reações do corpo humano em voos de longuíssima duração. Quem sabe agora eu me animo a realizar meu sonho de viajar até o outro lado do mundo para conhecer Indonésia, Malásia e Singapura.
Publicado em 31.10.2019