Método e Objetivo

 

Quando Bolsonaro desprezou a pandemia, desestimulou o isolamento social, boicotou o uso de máscaras, ironizou famílias enlutadas, estimulou o uso generalizado da cloroquina como salvo conduto para todos irem às ruas e disse que o mais importante era continuar trabalhando, ele estava, na verdade, com medo que uma crise econômica comprometesse seu projeto de reeleição. Em sua mente não havia nenhum problema que milhares morressem desnecessariamente, desde que ele fosse reeleito.

Dentro desta lógica, seria de esperar que Bolsonaro também incentivasse a vacinação generalizada, pois esta é a forma mais eficaz e segura de transmitir imunização em larga escala. Mas não.

Esta semana, nosso presidente, que estranhamente nunca deu qualquer palavra de incentivo ou reconhecimento pelos esforços da ciência e medicina para descobrir uma vacina, declarou que "ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina" e logo depois a assessoria do Planalto divulgou nota oficial dizendo que "O governo do Brasil preza pela liberdade dos brasileiros" (?).

Foi só então que percebi que, por paradoxal que pareça, também aqui há um método: A vacina é o novo inimigo da extrema direita.

Parte desse negacionismo bolsonarista é incentivado pela paranóia contra a 'vacina chinesa', que segundo eles, não passa de um soro maligno, que irá desintegrar nossos cérebros, nos transformar em zumbis e fazer com que sejamos todos controlados remotamente da China, que finalmente terá sucesso em seu plano maquiavélico de dominar o mundo.

Tenho recebido de amigos bolsonaristas textos e vídeos alarmistas, falando sobre os perigos ocultos das vacinas, sendo que um amigo próximo, médico, que disse que vai esperar alguns meses após o início da vacinação, para ter certeza se ela é segura, quando só então irá se vacinar. Este meu amigo é idoso, hipertenso, diabético e deveria, pela lógica, estar ainda mais ansioso que eu para se vacinar.

Que o ser inominável que ocupa o Planalto expresse diariamente doses de ignorância e estupidez não é surpresa, assim como não é surpresa que suas asneiras sejam repetidas por tanta gente. A surpresa é ver que existem médicos, pessoas supostamente de boa formação acadêmica, negando ciência e medicina e permitindo que sua convicção ideológica fale mais alto que seus diplomas. Neste ritmo, o próximo passo destes doutores será prescrever sanguessugas para tratar infecções e vomitórios para extrair tumores. Liderados pelo Capitão Ignorância, caminharemos então a largos passos rumo a uma nova Idade Média. Será este seu objetivo?

Quanto a mim, tenho total confiança no nosso Instituto Butantan que há 119 anos pesquisa, fabrica e distribui soros e vacinas contra várias enfermidades e que já salvaram inúmeras vidas.

Se, como tudo indica, a vacina descoberta na China for fabricada pelo Butantan e tornar-se a primeira disponível no Brasil, eu pretendo estar na fila na primeira hora do primeiro dia. E plenamente confiante. 

 

 

Publicado em 03.09.2020