Cada vez que ouço falar em Joaquin Phoenix lembro de seu personagem no filme Ela(Her, no original), um homem carente apaixonado pela voz do sistema operacional de seu celular. Mas, em Você Nunca Esteve Realmente Aqui ele está totalmente diferente, a começar por seu próprio corpo.

Para este papel Joaquin Phoenix acumulou vários quilos e a doçura daquele personagem que tinha como profissão redigir cartas lacrimejantes se fazendo passar por pessoas que não conseguiam expressar sentimentos foi agora substituída pela aspereza de um ex-combatente de guerra, especializado em resgatar mulheres aprisionadas.

Enquanto em Her ele ia ao céu conversando com sua querida que morava dentro do celular, agora ele manda bandidos para o inferno rachando suas cabeças com um martelo. E é impossível não lembrar de Taxi Driver (1976, de Martin Scorsese, com Robert de Niro e Jodie Foster). A impressão é que Her é na verdade uma homenagem àquele clássico do século passado.

Também nesse filme o personagem é um desajustado que ao voltar da guerra não consegue se reintegrar à sociedade e sobrevive como assassino de aluguel fazendo serviços para quem não quer sujar o nome nem as mãos. E desta vez seu cliente é um político de boa reputação, que decide recorrer aos seus préstimos profissionais para resgatar a filha adolescente mantida em cativeiro por bandidos pervertidos.

Mas quando as coisas parecem que estão quase resolvidas, as surpresas começam a acontecer. E elas são várias, uma após a outra, mudando completamente o rumo da história a cada momento, e nos arrastando junto para o mundo perturbado e sufocante de Joe, com seus fantasmas, pesadelos e traumas de guerra.  Joaquin Phoenix quase não fala no filme, mas não é preciso. Não é à toa que seu nome já é pule de dez para o próximo Oscar.

Bem no final, quando tudo parece perdido, surge uma brisa de esperança, quando aquela a quem ele tinha ido salvar transforma-se em sua salvadora. Ou não?

Você Nunca Esteve Realmente Aqui já ganhou diversos prêmios e pelo jeito ainda vai ganhar muitos outros. Merece. E vale a pena conferir.

 

 

Publicado em 15.08.2018