Tenho lido que o mundo inteiro está surpreso e ultrajado ao descobrir que o Facebook vem nos espionando, controlando o que fazemos, não fazemos, onde vamos, o que pensamos e até o que pretendemos comer de sobremesa, e tenho achado essas reações muito divertidas.
Quer dizer então que ninguém sabia disso? Quer dizer que nós mesmos colocamos lá nosso nome, profissão, lugares onde já trabalhamos, lugares que frequentamos, lugares onde estudamos, lista de amigos, telefones, e-mails, clicamos a torto e a direito aqui e ali, deixando bem claro o que gostamos, amamos, detestamos e estávamos esse tempo todo achando que ninguém ia fazer nada com essas informações? Que ninguém ia usar isso para fazer dinheiro? Que ninguém ia usar isso com propósitos inconfessáveis? Estávamos mesmo achando que existe almoço grátis?
Não precisa ser um nerd para saber que qualquer um de nós, em qualquer momento, pode descobrir um universo descomunal de informações sobre praticamente qualquer outra pessoa, utilizando apenas as ferramentas lícitas da rede, as quais estão à disposição de todos. Digite um nome no Google ou no Instagram, faça uma pesquisa no Face, consulte a lista telefônica online, Google Maps, procure textos, imagens e referências a respeito de um nome qualquer, confira o Yahoo, LinkedIn, Insharee, Twitter, siga a linha de informações, junte tudo e verá, em pouco tempo, surgir na sua frente as peças do quebra-cabeças. Junte todas as peças e em algum tempo e com um pouquinho de sorte a imagem completa se formará na sua frente: Você estará sabendo mais sobre aquela pessoa do que ela jamais chegará a desconfiar.
É assustador, mas verdadeiro. E se qualquer um de nós pode fazer isso, imagine o que pode o Facebook.
E o mais aterrorizante de tudo é que estas informações foram colocadas na rede por nós mesmos, de livre e espontânea vontade.
Por que temos essa necessidade de nos expor? Seria apenas um irrefreável impulso exibicionista? A quantidade de informações que disponibilizamos nas redes sociais sobre nós mesmos é estarrecedora, e algum dia esse assunto deveria ser estudado a fundo pela psicologia ou sociologia.
Queremos ser populares, queremos ser ouvidos, queremos dizer o que fazemos e pensamos, queremos reencontrar amigos e estender nossas relações além do quadrado onde moramos. Tudo isso é ótimo e compreensível, mas tem um preço, e ele será a perda total de nossa privacidade E essa perda será muito maior e mais profunda do que jamais imaginamos ser possível.
Tudo bem para você? Ok, então clique no 'concordo' ao pé da página.
O que muitas pessoas dizem agora estar descobrindo, aparentando surpresa, o Facebook já descobriu há muito tempo e vem usando, de forma eficiente e lucrativa, todas as informações que coleta.
Também aquelas aparentes brincadeiras inocentes que rodam no Face, sobre signos, sua aparência quando ficar velho etc também coletam dados. E olha só, posso te contar mais uma coisa? Não é só o Face. Todas as outras redes fazem o mesmo.
Suas informações, imagens, textos, opiniões, simpatias, antipatias, tudo que você postou poderá ser copiado por outros, rapassado, repostado e usado com diversas finalidades, sem seu conhecimento.
E não pense que para sair desse esquema basta você deletar tudo, apagar suas contas e deixar de usar. Tudo que você postou, escreveu, curtiu ainda vai continuar lá, guardadinho, à disposição dos administradores das redes, e poderá ser usado da forma como eles quiserem, no momento que quiserem.
Quando postamos alguma coisa nas redes é para sempre.
E a razão é que toda pessoa que entra numa rede social está comprando apenas uma passagem de ida.
Não tem como voltar.
Publicado em 12.04.2018