Ana

 

Há poucos dias recebi o print de uma story (agora é assim que se diz) repassando um tipo de corrente, solicitando que todos sigamos uma pessoa que, segundo a mensagem "...fala sete línguas, é doutora em música, tocou com grandes nomes da música mundial, inclusive para o Papa e teve o visto negado porque não tem números expressivos nas redes sociais".

Embora essa informação não conste na mensagem, o país em questão é a Austrália. A mensagem termina com uma solicitação escrita em português sofrível: por favor sigam ela.

Minha primeira reação, até devido à gramática, foi dizer que essa história era fake. Não entra em minha cabeça que alguém possa ter um visto negado na Austrália em função do número de seguidores. Se estivéssemos falando de um país como, por exemplo, Quirguistão ou Nauru, onde os vistos, eu imagino, são dados por um funcionário dorminhoco sentado numa mesa de pé quebrado no centro de uma sala mofada, com um carimbo de Aprovado no seu lado direito e um carimbo Negado no seu lado esquerdo, e que após olhar para o rosto de cada requerente decide, conforme seu humor, se vai usar o carimbo de um ou de outro lado, eu até entenderia.

Mas não dá pra acreditar que isso aconteça num país do primeiro mundo, o que inclui Austrália, onde existem regras claras e específicas para a concessão de vistos. E nenhuma delas, até onde sei, faz referência ao número de seguidores em redes sociais

Mas eu decidi conferir e por incrível que pareça a história é verdadeira. A moça é uma ótima violinista, está na Austrália, não sei com que tipo de visto entrou, e agora que esse visto expirou as autoridades locais estão exigindo que ela deixe o país, o que obviamente ela não quer. Ana (esse é seu nome) postou algumas stories em seu Instagram, onde, entre lágrimas e sorrisos pede o apoio de todos, e que a sigam.

Pela importância que as redes sociais vem adquirindo,  eu sempre achei que, num futuro distante, ter muitos seguidores seria um critério válido para conseguir bons empregos, obter empréstimos bancários, financiar automóveis, conseguir assento na primeira classe, ser convidado para trabalhar na NASA, ser homenageado pela Sorbonne e até mesmo conseguir vistos. Mas pelo visto esse dia está mais próximo do que eu imaginava.

Então boa sorte Ana, estou torcendo por você.

E por favor: sigam-na.

 

 

Publicado em 20.07.2020