Depois de quase quatro anos de governo Bolsonaro, são evidentes alguns dos danos que ele trouxe ao país.

A transformação do Brasil num pária internacional. O retrocesso no protagonismo global do combate às mudanças climáticas. O desmonte da educação. O desprezo pela saúde pública. A aceleração do desmatamento de nossas florestas. O desprezo pelas minorias. A adoção da mentira como norma governamental. A repulsa pela cultura. O nojo pelas artes. A aversão à leitura. A misoginia escancarada. O racismo debochado. A homofobia mal disfarçada. A apologia da tortura. O desprezo pelos grandes nomes do teatro e cinema já falecidos, os quais nunca mereceram sequer uma palavra de reconhecimento. As homenagens e medalhas aos foragidos e condenados pela justiça.  A índole golpista. A afronta permanente aos poderes constituídos. O desprezo pelos ideais democráticos. 

Mas, dentre todas as consequências nefastas que o bolsonarismo trouxe, talvez a mais vil e perniciosa tenha sido o incentivo a atitudes e pensamentos que representam o retrocesso civilizatório, tal como o conhecemos. 

Todos nós temos um amigo, parente ou conhecido que nunca imaginamos ver fazer ou dizer certas coisas. São pessoas que durante a vida inteira tiveram vergonha de expressar seus pensamentos preconceituosos. Sabiam que aqueles pensamentos eram errados e vergonhosos e por isso os escondiam. Se continham.

Mas graças aos incentivos do presidente, graças aos seus exemplos diários, graças às suas declarações homofóbicas, raivosas, misóginas, sempre recebidas com aplausos e risadas pela súcia que lhe rodeia, graças ao desprezo do presidente pelas leis e sua certeza de impunidade, essas pessoas passaram a se sentir também à vontade para expressar, sem nenhum pudor, suas idéias mais torpes.  

Graças a Bolsonaro descobrimos que muitas das pessoas com quem convivemos durante anos não eram o que pensávamos ser. Ninguém muda tanto de um dia para outro. Todas essas pessoas já eram assim, elas apenas necessitavam um incentivo para mostrarem como realmente são. E encontraram esse incentivo no presidente. 

E nós constatamos agora, tristes e amargurados, que essas pessoas tão próximas de nós nunca foram o que imaginávamos ser.

 

 

Publicado em 01.07.2022